O ex-médico Denísio Marcelo Caron foi condenado a 13 anos em regime inicialmente fechado. O veredito do júri popular foi lido pelo juiz Lourival Machado da Costa pontualmente às 19 horas, após mais de dez horas de julgamento. A defesa já recorreu da condenação e Caron poderá aguardar a apreciação do recurso em liberdade.

 

Os jurados acataram a tese de que o crime foi praticado por motivo torpe, qualificadora que aumentou a pena. "Há que ser salientado que o réu tendo plena consciência e convicção da sua falta de expertise, porquanto não havia realizado estudos e residência médica na especialidade de cirurgia plástica, ou mesmo de cirurgia geral, realizava em suas pacientes procedimentos cirúrgicos típicos e próprios da atividade de cirurgião plástico, e se assim agia tinha plena convicção que o resultado negativo poderia advir da sua falta de perícia para tanto", destacou o juiz na sentença. O magistrado também salientou o fato de Caron ter provocado consequências "nefastas" em outros procedimentos similiares.

Ao final da sessão, Caron se dirigiu ao promotor Maurício Gonçalves de Camargo, responsável pela acusação, e o parabenizou pelo trabalho. "Eu me arrependo do tempo que perdi estudando e trabalhando pois agora me encontro com 50 anos e com condenações que, juntas, ultrapassam 60 anos. Que expectativa de vida posso ter ?", questionou. Também foram levados em conta, para dosagem da pena, os antecedentes do réu, considerados desfavoráveis, e sua conduta social e personalidade, tidos como normais, bem como os motivos e consequências do crime e, finalmente, o comportamento da vítima que, pela votação dos jurados,  não contribuiu para a prática do delito.

O julgamento se refere à morte da oficial de justiça Flávia de Oliveira Rosa, ocorrida em 12 de março de 2001, em decorrência de complicações em lipoaspiração feita por ele dias antes.

Interrogatório

Ao ser ouvido, na manhã dessa quinta-feira, Caron afirmou que realizou cerca 2 mil cirurgias plásticas e que, destas, apenas quatro resultaram óbito: dois em Brasília e dois em Goiânia. Ele garantiu que gostava muito de Flávia e da família dela e afirmou lamentar sua morte.

Segundo Caron, a oficial de justiça foi operada numa terça-feira, teve alta dois dias depois e morreu na segunda-feira seguinte. Ele afirmou tê-la vista no sábado à noite quando, ao constatar a gravidade do caso, a encaminhou para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI). "Por mim ela ficaria internada mais tempo, mas dei alta porque ela era jovem, saudável e que queria ir pra casa", relatou.

O ex-médico informou que, além da perfuração no fígado, que acredita ter sido feita pelo cirurgião geral, Flávia também sofreu infecção. "Acompanhei a abertura do abdômen dela e seu fígado estava inchado", assegurou, sustentando que a perfuração era grande e, por isso, não poderia ter sido feita por uma cânula de lipoaspiração. Ele chegou a dizer que daria sua vida para ter a de Flávia de volta, momento em que a mãe da vítima deixou o tribunal.

Marcelo Caron chorou muito ao falar do filho que nasceu na época das mortes de suas pacientes, e também ao falar da morte de sua concunhada, Janete, primeira de suas pacientes a morrer. Disse acreditar que suas falhas podem ter sido resultado muito mais de distúrbios pessoais do que profissionais e destacou que os problemas com suas cirurgias provocaram baixa em sua auto-estima. Por outro lado, informou ter sido absolvido de 25 das 29 denúncias a que respondeu por lesão corporal.  Sobre anúncio de realização de cirurgia plástica em carro de som, Caron afirmou que isso foi uma brincadeira infeliz de um colega de Turvânia. "Fiz um termo de ajustamento de conduta com o MP para deixar de atuar em Goiânia. Fui mal orientado e entendi que o acordo era válido só pra Goiânia. Hoje vejo que errei", admitiu.

Abaixo, as frases ditas por Caron durante o júri popular:

"Nunca fiz mortes em pacientes. Se elas ocorreram foi porque não consegui salvá-las". 

"Me redimi. Acho justo ter tido meu diploma cassado, apesar de ter feito mais de duas mil cirurgias e a maioria com bons resultados". 

"Ingenuamente, eu usava a máxima de que um raio não cai duas vezes no mesmo lugar. Principalmente porque eram procedimentos que eu fazia com destreza".

"Minha pena jurídica é mínima perto da pena moral, social e familiar que estou sofrendo".

"Tento entender o porquê de tanta desgraça numa coisa que tinha tão boa intenção". 

"A autoconfiança me levou a tentar a resiliência. Mas, por vezes, esse cair levantar pode ser desastroso" (Texto: Jovana Colombo - Centro de Comunicação Social do TJGO)

Leia abaixo, notícias postadas ao longo do dia sobre o julgamento de Caron:

09h39 - Flash - Marcelo Caron: começa julgamento

09h52 - Flash -  Marcelo Caron: primeira testemunha de acusação é ouvida

10h05 - Flash - Marcelo Caron : perfuração de paciente foi fatalidade, diz testemunha

10h47 - Flash - Marcelo Caron: médica diz que cânula poderia estar em posição errada

10h58 - Flash - Marcelo Caron: prima de vítima fala

11h49 - Flash - Marcelo Caron: juiz ouve mãe da vítima

11h52 - Flash - Marcelo Caron: réu começa a falar

16h35 - Flash - Marcelo Caron: para promotor, ex-médico assumiu risco de matar

16h51 - Flash - Marcelo Caron : defesa insiste que ex-médico tinha qualificação para operar

17h35 - Flash - Marcelo Caron : defesa vai para a tréplica

17h55 - Flash - Marcelo Caron : em tréplica, defesa alega falha em denúncia do MP