Cem dias após o crime, Mikael Fagundes dos Santos, de 19 anos, foi condenado a 17 anos de prisão, em regime fechado, pela morte do cozinheiro José Yuri de Oliveira Caetano, de 23, devido a uma briga no Parque de Exposição Agropecuário de Pires do Rio. A sentença foi lida pelo juiz-presidente da sessão do júri popular José dos Reis Pinheiro Lemes, na tarde desta quarta-feira (26), após cerca de 8 horas de julgamento.

No dia 17 de junho deste ano, o réu e a vítima estavam na pecuária da cidade e devido a uma discussão por causa do som e de uma lata de cerveja arremessada, Mikael atirou contra José Yuri. O crime teve grande repercussão na cidade e no Estado, o auditório estava lotado e houve reforço policial durante todo o dia no fórum.

“Com esse julgamento em 100 dias nós damos concretude ao artigo 412 do Código de Processo Penal. Quero ressaltar que se os atores processuais não tivessem contribuído, não teríamos chegado a esse tempo. Eu só tenho a agradecer a todos e Justiça é isso, é o processo ser julgado rapidamente, ou seja, princípio da razoável duração do processo. Isso que aconteceu e é isso que queremos implantar na comarca, essa é nossa meta”, salientou o magistrado.

O júri foi composto por 6 mulheres e um homem. A maioria dos jurados reconheceu as qualificadoras de motivo fútil e a prática do crime com recurso que impossibilitou a defesa da vítima. “Não socorre ao réu o direito de eventualmente recorrer em solto desta sentença, porquanto há indicativos concretos e reais da imprescindibilidade da manutenção do claustro anteposto, eis que o modus operandi revela inequívoca periculosidade social, já que o delito foi cometido com assoberbada frieza, crueldade e por vingança (briga anterior)”, destacou o juiz.

Interrogatório
Em juízo, o réu confessou o crime e frisou que estava arrependido. “Não precisava chegar onde chegou”, falou. Ele disse ainda que responde na Justiça pelos crimes de embriaguez ao volante e furto. Mikael contou detalhes do dia em que atirou na vítima e explicou que foi por causa de uma discussão. Ele disse que adquiriu a arma há três meses e foi para “se defender”. “Eu comprei uma arma para minha defesa, ela estava carregada com três munições e eu paguei R$ 3 mil para tê-la”, afirmou.

Segundo ele, a lata de cerveja foi jogada para cima sem a intenção de pegar em alguém. “O povo fala que pingou nele, daí ele chegou com o peito estufado e começou a brigar”, contou. Lembrou que já teve uma discussão com a vítima há mais de um ano por causa de mulher, mas que o problema já havia sido resolvido.

“Peguei a arma e nós dois olhamos um no olho do outro, ele passou a mão na cintura e eu atirei”, detalhou. O condenado afirmou que o tiro foi acidental e não viu que havia acertado na cabeça da vítima. “Depois do crime, eu fugi para responder em liberdade e depois eu me apresentei”.

Depoimentos
Oito pessoas foram ouvidas durante a manhã, uma delas a mãe da vítima, Divina Vieira de Oliveira, que falou na qualidade de informante. Em vários momentos, ela se emocionou e falou da falta que o filho faz. "Ele começou a trabalhar com 17 anos até que descobriu o dom de cozinhar, tinha um restaurante e amava o que fazia. Era um menino responsável, tranquilo e que nunca me deu trabalho", contou.

Mãe de dois filhos, ela fez questão de frisar que José Yuri era um “excelente” filho. "Eu sei a falta que ele está fazendo. Isso que está acontecendo comigo não devia acontecer com nenhuma mãe. Ele – o réu – não tirou de mim um filho e sim um pedaço de mim", falou chorando.

Falso testemunho
Duas testemunhas arroladas pela acusação e cinco pela defesa foram ouvidas. Uma delas, durante seu depoimento, Hygor Oliveira Lobo, foi retida a pedido promotor de Justiça Marcelo Borges Amaral, pelo crime de falso testemunho.

O crime
Segundo a denúncia, no dia do crime, acontecia a festa agropecuária na cidade, local em que estavam o réu e a vítima. Consta que encerrado o rodeio e o show, José Yuri e os amigos foram para dentro do parque de exposição onde já estava Mikael. Até que em certo momento o denunciado mudou a música que tocava no ambiente e arremessou uma lata de cerveja para o alto, a qual acertou a vítima, iniciando neste momento uma discussão e briga entre eles, até que terceiros intervieram e eles pararam de brigar.

Após a confusão, a vítima continuou na festa com os amigos enquanto o autor deixou o local irritado e só voltou após saltar o muro e estava armado. De acordo com os autos, ao ver a vítima, Mikael atirou e acertou na cabeça. O cozinheiro morreu a caminho do hospital. Após o crime, o réu fugiu pulando o muro e somente apresentou-se na Delegacia de Polícia no dia seguinte. (Texto: Arianne Lopes / Fotos: Aline Caetano – Centro de Comunicação Social do TJGO)

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