Terminou no fim da tarde desta quinta-feira (6) a audiência de instrução e julgamento na ação penal sobre a morte da menina Kerolly Alves Lopes e pela tentativa de homicídio do pai dela, Sinomar Firmino Lopes, e da irmã da vítima, Pérola Alves Lopes, em 27 de abril do ano passado. O acusado, George Araújo de Souza, foi interrogado pelo juiz Leonardo Fleury Curado Dias, da 4ª Vara Criminal de Aparecida de Goiânia, que irá decidir até o final de mês se ele irá ou não a júri popular. 

A instrução total durou cerca 2h30. George negou que quisesse matar ninguém. “Eu não queria acertar ninguém, por isso atirei para baixo. Não queria a morte de Kerolly e nem do Sinomar”, frisou. Ele se emocionou ao relembrar a história e disse que está muito arrependido. 

George relatou, ainda, que comprou a arma no final de 2012 porque os assaltos eram frequentes na pizzaria. Além disso, ele afirmou que não se lembrava de quantos disparos efetuou, mas achava que foi só um, para baixo. “Não sabia que tinha acertado a menina, fiquei muito nervoso e entrei no carro. Me entreguei à polícia quando ela ainda estava internada”, contou.

O dono da pizzaria, que foi o último a ser ouvido, contou como começou seu desentendimento com Sinomar, dois meses antes do fato. “Ele quebrou o balcão da pizzaria porque a pizza estava demorando”, contou. Ele negou ter ameaçado Sinomar, entretanto, confirmou ter desferido um tapa no rosto do pai de Kerolly na ocasião. George disse que, na época, foi informado que Sinomar era uma pessoa muito violenta e por isso, no dia do crime, ao vê-lo na entrada do estabelecimento, pegou a arma e foi conversar com ele. “Quando ele veio falar comigo, ficou com a mão na cintura, como se estivesse armado”. 

Leonardo Fleury inqueriu também Sinomar, que confirmou que o desafeto começou em razão da demora na pizza. "Eu paguei só o refrigerante e não a pizza porque eu não comi. Quando viu que eu não queria pagar, George veio com ignorância, eu bati a mão no balcão, que quebrou, e ele me deu um tapa na cara", disse. Ainda segundo Sinomar, ao sair da pizzaria naquele dia foi ameaçado por George, que disse "eu sei que o senhor vai voltar aqui. Quando voltar vai ter um negócio esperando o senhor", contou em juízo.

Sinomar justificou que passava próximo à pizzaria e decidiu parar e tirar satisfação com George, mas não sabia que ele era o dono do estabelecimento. Garantiu ter pedido às filhas para que ficassem no carro. "Entrei na pizzaria, bati palma e ele saiu. Ele me viu e já veio armado. Eu fui afastando e ele veio se aproximando. Vi que a Pérola me chamou e ele estava uns dois metros distante de mim", afirmou. Ainda durante a audiência, disse que Kerrolly foi para sua frente e pediu "pelo amor de Deus" para George abaixar a arma. "Na hora eu não vi se estava abraçando ou não a minha menina e ele disparou dois tiros", contou emocionado.

Irmã
O juiz inqueriu, ainda, Pérola Lopes, irmã de Kerolly, que não quis falar na frente de George e pediu para que ele se retirasse. A jovem confirmou que, no dia que foram à pizzaria, eles esperaram mais de 2 horas pela pizza e que o pai pagou somente o refrigerante. Ela afirmou que George foi ignorante com seu pai na ocasião.

Pérola contou também que, no dia do crime, Sinomar pediu para que elas ficassem no carro e disse que ia ao açougue. “Eu sabia que ele ia até a pizzaria. Meu pai era nervoso com as pessoas que mexiam com ele, mas era muito bom com nós, filhas”, disse. Ela relatou que, ao ver a discussão, Kerolly saiu correndo e ergueu a mão, pedindo para George não atirar.

Além de Sinomar e Pérola, que são vítimas, foram inqueridas também duas testemunhas arroladas pelo Ministério Público (MP). Logos após, foram ouvidas quatro testemunhas de defesa.

 

"Por que você fez isso ?"

Ao final da audiência, Pérola perguntou o juiz se ela poderia falar com o o acusado. “Se ele quiser, sim”, respondeu Leonardo Fleury. A menina, então, perguntou, chorando, porque ele cometeu o crime e acrescentou o quanto está "sendo ruim" sem a irmã. “Eu não queria acertar vocês. Eu juro. E estou pagando por isso. A culpa também é do pai de vocês, que colocou ela na frente”, respondeu emocionado. “E se fosse sua filha?”, questionou a jovem. “Eu morreria por ela e não a colocaria na frente”, disse George.

 

Entenda o caso

Os disparos que mataram Kerolly foram efetuados por George no dia 27 de abril, durante discussão com o pai da garota, Sinomar Firmino Lipes. Os dois haviam brigado meses antes em razão da demora na entrega de uma pizza. No dia do crime, Sinomar foi até a pizzaria de George para tirar satisfação, diante da informação de que o comerciante teria comprado uma arma para matá-lo. Chegou lá de carro, com as filhas, orientando-as a permanecerem dentro do veículo enquanto discutia com George.

Os dois iniciaram uma discussão e George sacou a arma, momento em que as meninas saíram do veículo para tentar proteger o pai. Na briga, George efetuou dois disparos, que atingiram a cabeça e a perna de Kerolly. A menina ficou internada por 10 dias em estado gravíssimo no Hospital de Urgências de Goiânia (Hugo) e morreu no dia 6 de maio, por morte cerebral. (Texto: Arianne Lopes / Fotos: Aline Caetano – Centro de Comunicação Social do TJGO)

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