Terminou, às 15h07 desta quarta-feira (19), a primeira explanação da acusação nos debates orais entre defesa e Ministério Público (MP) no julgamento de Wilson Bicudo. A defesa (foto) elogiou a celeridade com que foi feita, pelo juiz Jesseir Coelho de Alcântara, a instrução do processo. “Esse crime terrível foi cometido há sete meses e hoje já estamos aqui para julgar o réu. Que isso sirva de exemplo”, comentou a assistente da acusação, advogada Darlene Liberato (ao centro na foto).

O promotor Paulo Pereira dos Santos começou a falar por volta das 13h30 e tentou, durante toda sua apresentação, convencer o conselho de sentença de que o réu cometeu tentativa de homicídio com três qualificadoras: motivo torpe (vingança), com crueldade e uso de recurso que impossibilitou a defesa da vítima.

Ele ressaltou a firmeza e coerência das afirmações feitas pela vítima tanto na polícia quanto em juízo e, por outro lado, as contradições do réu. “Isso é motivo suficiente para acreditarmos nela quando disse, reiteradas vezes, que no dia dos fatos o acusado chegou à casa dela dizendo ‘vim aqui hoje para te matar’”.

Para o promotor, isso demonstra que Bicudo tinha, sim, a intenção de tirar a vida de Mara Rúbia. Referindo-se à violência do ato de tentar asfixiar alguém, Paulo Pereira observou que o comportamento de quem esgana, enforca, não é de quem quer apenas ferir, mas matar. “Até mesmo porque o risco de matar uma pessoa enquanto esgana é muito grande”, observou.

Outro fato que atesta a intenção homicida do réu, como sustentou o promotor, consiste em ele ter trancado o portão da casa de Mara Rúbia, depois de espancá-la, amarrá-la e deixá-la inconsciente. “Ele trancou o portão porque estava crente que ela morreu ou estava morrendo. Pra impedir qualquer chance de socorro. Ela sobreviveu por motivos alheios à vontade dele”, afirmou, frisando que, ao acreditar que a vítima estava morta, o réu cometeu um “erro de cálculo” que o levou a não seguir a execução da ex-mulher. “Ele achou que já tinha alcançado seu intento”, concluiu, destacando, ainda, que Bicudo demorou a avisar o irmão e a amiga da vítima que, então, foi socorrida, antes, por vizinhos. “Isso demonstra que não houve intenção de socorro, como ele alega”.

A acusação também tentou convencer os jurados da crueldade com que os crimes foram cometidos. “Não bastava a ele somente matar, tinha de ser com muita dor para a vítima, tanto é que ela chegou a fazer as necessidades fisiológicas na roupa”, pontou. O promotor sustentou que, com os golpes contra os olhos de Mara Rúbia, Bicudo pretendia tirar-lhe não apenas um dos mais importantes sentidos, que é o da visão, mas provocar-lhe intenso sofrimento.

A tranquilidade do acusado durante o interrogatório também foi destacada pelo promotor, para quem o réu é sádico. “Ele avisou o irmão e a amiga da vítima não para procurar socorro, mas para mostrar que tinha matado e, assim, satisfazer seu próprio sadismo”, salientou.

Por sua vez, Darlene Liberato chamou atenção para o fato de que ter sido justamente a asfixia que salvou a vida de Mara Rúbia já que, com a língua muito inchada e projetada para fora da boca – situação comum para quem sofre esganadura – ela conseguiu empurrar o pano que a amordaçava e, assim, clamar por socorro.

A advogada tentou sensibilizar os jurados para a gravidade dos atos de Bicudo. Ela falou sobre como está a vida de Mara Rúbia hoje, quase sem visão e impossibilitada até mesmo de cozinhar carne ou legumes para o filho, já que tem trauma de facas. “Nem chorar ela pode mais, porque as lágrimas infeccionam os olhos. Até isso ele tirou dela”, destacou. (Texto: Patrícia Papini - Centro de Comunicação Social do TJGO) 


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