O Projeto Adoce: Acordos após ingestão de Dextrose Observados em Conciliações Judiciais (processuais) e Extrajudiciais (pré-processuais) passa, agora, a ser institucionalizado pelo Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (TJGO). Iniciado em Anápolis, pela juíza Aline Vieira Tomás, da 2ª Vara de Família, a iniciativa deve ser levada a outras comarcas, devido ao índice de sucesso comprovado.

No despacho, o presidente do TJGO, desembargador Walter Carlos Lemes, destacou que o projeto impactou no aumento dos acordos alcançados no Centro Judiciário de Soluções de Conflitos e Cidadania (Cejusc), “o que vem ao encontro com as metas 1 e 5 do Plano de Gestão 2018/2019 e da Meta 3 do Conselho Nacional de Justiça (CNJ)”. Nesta segunda-feira (2), o projeto foi premiado na categoria Trabalhos dos Magistrados do 8º Prêmio AMAERJ Patrícia Acioli de Direitos Humanos, em cerimônia no Rio de Janeiro.

O projeto

No período de abril a dezembro do ano passado, a magistrada ofereceu uma jarra com suco de uva às partes e aos advogados que frequentam o 2° Cejusc de Anápolis. A pesquisa, que faz parte de sua tese de mestrado na Universidade Federal de Goiás (UFG), constatou que tomar a bebida adoçada durante uma audiência de conciliação permitiu às partes alcançarem 76,27% de acordos, enquanto o grupo que ingeriu apenas água atingiu 45,24%. Uma diferença de 31,03% a mais de acordos.

A ideia surgiu quando ela se tornou exclusivamente juíza de família. “O carro-chefe de uma vara de família é a audiência conciliatória. Seguimos aqui na nossa vara o modelo preconizado pelo Tribunal de Justiça e eu buscava sempre um incremento para conseguir um número maior de acordos”, afirmou. “Nessa busca por novidades, eu tomei conhecimento de um estudo internacional publicado por juízes de Israel que dizia que, enquanto estavam alimentados, os magistrados foram mais favoráveis a decidir a favor dos réus.

A partir disso, Aline Vieira disse ter surgido o interesse em estudar glicobiologia para entender o funcionamento da glicose no corpo humano. “Esse estudo mostrou que a glicose é o principal combustível para o nosso cérebro e ela pode funcionar como gatilho para ativar o nosso Sistema de Recompensa Cerebral, que é aquele que nos permite sentir satisfação e bem-estar”.

A magistrada frisou que, normalmente, nas audiências de conciliação, as partes chegam nervosas, tensas, combatíveis, e isso significa que o sistema de punição cerebral está ativado. A glicose, conforme ressaltou, pode ser um “gatilho de passagem” para que desative o sistema de punição e ative o sistema de recompensa. “Uma vez acionado, a tendência é que a pessoa se abra para a comunicação, negocie melhor e esteja disposta a ouvir o outro, o que vai ao encontro exatamente da política conciliatória”, completou a magistrada. (Texto: Lilian Cury - Centro de Comunicação Social do TJGO)