O vigilante Tiago Henrique Gomes da Rocha foi condenado a 19 anos e 6 meses de detenção, em regime inicialmente fechado, a ser cumprido na Penitenciária Odenir Guimarães, no Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia, pelo homicídio de Denilson Ferreira de Freitas. A sessão do 1º Tribunal do Júri da comarca de Goiânia foi presidida pelo juiz Jesseir Coelho de Alcântara e contou com as participações do promotor de Justiça Maurício Gonçalves de Camargos e da defensora pública Ludmila Fernandes Mendonça. As penas, somadas, chegam a 503 anos e 4 meses de prisão – 21 condenações por homicídio, 1 por roubo a agência lotérica e 1 por porte ilegal de arma, além da absolvição por 1 assassinato.

Tiago Henrique foi condenado por homicídio com as qualificadoras de motivo torpe e utilização de recurso que impossibilitou a defesa da vítima. O crime ocorreu no dia 28 de fevereiro de 2014, no Bar e Restaurante Cabanas 23, na Rua 23, no Setor Central. Durante o interrogatório, o réu contou que combinou o crime com a ex-mulher da vítima, Waldirene Oliveira Manduca.

Durante a fase de debates, o promotor de Justiça Maurício de Camargos requereu a condenação nos limites da pronúncia. Falou sobre as provas obtidas pela Polícia Civil durante a fase de investigação, além da confissão do acusado. Já a defesa sustentou a redução de pena com a tese da semi-imputabilidade e pugnou pela retirada da qualificadora de motivo torpe. O Conselho de Sentença não acatou a tese de semi-imputabilidade, em virtude de perturbação da saúde mental, postulada pela defesa e reconheceu as duas qualificadoras.
Ao dosar a pena, Jesseir de Alcântara fixou a pena base em 20 anos de reclusão, mas em razão da confissão espontânea durante a sessão do Tribunal do Júri, a diminuiu em 6 meses, tornando-a definitiva em 19 anos e 6 meses de reclusão. O magistrado manteve a prisão preventiva do réu.

Durante os depoimentos, o vigilante afirmou que frequentava a Lanchonete Tocantins, de Waldirene Manduca, e que, durante as conversas que mantinham, ela reclamou que sofria agressões e maus-tratos por parte de Denilson de Freitas e que tinha vontade de matá-lo. Tiago Henrique, então, se dispôs a cometer o crime e acabaram combinando a execução. Ele, no entanto, não confirmou ter recebido R$ 1 mil de pagamento, conforme consta na denúncia oferecida pelo Ministério Público do Estado de Goiás (MPGO).

Um dia antes do homicídio, ele acertou os detalhes com Waldirene Manduca e foi para casa, onde preparou o revólver calibre 38, que posteriormente foi apreendido pela Polícia Civil. No outro dia, já com a arma, foi até a lanchonete de Waldirene Manduca, bebeu algumas cervejas. “Conversei com ela um pouco e fui até o restaurante. Parei a moto na porta, desci, caminhou até a vítima e disparei”, contou.

Logo depois de cometer o homicídio, Tiago Henrique foi para casa, no Conjunto Vera Cruz. Ele disse que não recebeu dinheiro pelo crime, “fiz por amizade”. Durante o depoimento, o vigilante pediu perdão à família de Denilson de Freitas e contou que o sentimento que o levou a cometer o assassinato foi mais forte que ele. “Fui muito machucado pela vida”, disse.

A delegada Silvana Nunes, que presidiu o inquérito indiciando Tiago Henrique, prestou depoimento. A policial contou detalhes da investigação realizada pela Delegacia Estadual de Investigação de Homicídios que levou à conclusão de que o vigilante foi o autor do crime a mando da ex-mulher da vítima. Lembrou que foi apurado que Waldirene Manduca, depois que o ex-marido foi morto, se apossou de seus documentos pessoais e dos cartões bancários e realizou várias movimentações financeiras. Afirmou também que foram coletadas impressões digitais em latas de cerveja e em um copo que estavam no balcão da lanchonete de Waldirene Manduca, cujo confronto papiloscópico deu resultado positivo com as de Tiago Henrique.

Silvana Nunes contou que a cena do crime foi muito alterada e que o projétil que atingiu Denilson de Freitas não foi encontrado. No entanto, logo após o assassinato, a lanchonete de Waldirene Manduca foi interditada pela Polícia Civil, para colheita de provas, uma vez que um garçom havia dito que um homem com as mesmas características físicas do autor do crime foi visto no estabelecimento da mulher. A policial lembrou que as imagens do circuito interno de televisão do restaurante da vítima foram apagadas.

Ela também disse que reconheceu o assassino como o homem que foi filmado na Lanchonete Tocantins e que, na Delegacia de Investigação de Homicídios, foi lhe apresentada uma gravação, cuja voz era de Tiago Henrique e seria muito semelhante ao do homem que atirou na cabeça de Denilson de Freitas. A irmã da vítima, Maria de Lourdes Freitas Couto de Oliveira, relatou detalhes do relacionamento de Denilson de Freitas e Waldirene Manduca. Contou também que ela apoderou-se dos documentos pessoais do irmão, além dos cartões bancários.

Durante a audiência de instrução e julgamento realizada no dia 14 de setembro de 2015, os autos do processo foram desmembrados, pelo juiz Jesseir Coelho de Alcântara, pelo fato de Tiago Henrique estar preso e Waldirene Manduca, solta. (Texto: João Carlos de Faria/Foto: Agnaldo Teixeira - Centro de Comunicação Social)