“Processos, há vários. Este aqui poderia ser apenas mais um. Mas eu quero ajudar a resolver a vida de vocês. Quero que vocês tenham paz. Condenar ou absolver é o de menos, tratar de uma questão familiar é muito mais importante”, anunciou o juiz Fernando Ribeiro de Oliveira, numa conversa incomum entre réu e vítimas – todos da mesma família.

Ali, na sala de audiência, promovida durante o programa Justiça Ativa, na comarca de Aruanã, o crime abordado era ameaça. Marcelo da Silva jurou matar a avó, Franquilina Oliveira, e a ex-mulher, Cleusa Brasil. Alcoólatra, o acusado apresenta comportamento agressivo quando se embriaga, o que motivou muitas brigas entre os parentes.

Franquilina depôs primeiro, acompanhada de seu marido, Adão, sem a presença do Neto. Chorou muito. Contou sobre os cuidados que teve com o neto e que assumiu a criação dele e dos dois irmãos após o homicídio da filha, há mais de 30 anos. Marcelo tinha apenas quatro anos quando viu o assassinato da mãe – morta com uma facada no pescoço –, e, em seguida, o suicídio do autor do crime, seu próprio pai.

A tragédia abalou para sempre a vida do pedreiro, do vício ao álcool a agressões constantes contra a ex-mulher. Em sua vez de depor, ao narrar a história, o choro ainda fica preso na garganta de Marcelo. “Tudo o que eu precisava era carinho. Tive uma infância muito difícil”. Anos mais tarde, sua irmã mais velha, grávida, tentou se matar ingerindo veneno – história também revelada em meio aos fatos da audiência, como numa sessão de terapia.

Marcelo passou nove meses preso pelo crime – na audiência estava, inclusive, com algemas. Depois, o magistrado pediu à escolta para soltá-lo, num voto de confiança. No depoimento, constrangido, ele disse que não se lembrava dos episódios de fúria devido ao abuso do álcool, mas que estava disposto a mudar de vida e a pedir perdão.

Conciliação

O processo de ameaça poderia ter sido sentenciado logo após as oitivas das partes, mas o magistrado optou por ir além e chamar, novamente os envolvidos para uma conversa aberta. “Vocês são parentes, não precisam agir assim. Podem seguir a vida em paz, a partir de agora. Marcelo vai pagar pelos atos que cometeu”, elucidou Fernando Ribeiro de Oliveira.

Pelo crime de ameaça verbal contra a avó e a ex-mulher, o pedreiro foi condenado a quatro meses e 20 dias detenção, pena substituída por prestação de serviços à comunidade, “na busca da reintegração do sentenciado à comunidade, como forma de lhe promover a autoestima e compreensão do caráter ilícito de sua conduta”.

(Texto: Lilian Cury / Fotos: Wagner Soares – Centro de Comunicação Social do TJGO)

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