“A importância do Projeto Pilares no contexto atual é, sem dúvida, inquestionável. Em tempos de tanta violência com episódios relatados constantemente pela mídia, que atinge especialmente nossas crianças e adolescentes, a comunicação não violenta e a abordagem diferenciada dos conflitos no âmbito escolar se mostra uma ferramenta muito eficiente na prevenção de atos violentos”. Com esse viés, o corregedor-geral da Justiça do Estado de Goiás, desembargador Kisleu Dias Maciel Filho, fez a abertura na tarde desta terça-feira (7) do segundo módulo do Projeto Pilares para formação de 30 novos facilitadores em círculos de construção de paz. O projeto é desenvolvido pela Corregedoria-Geral da Justiça do Estado de Goiás, sob a coordenação da Secretaria Interprofissional Forense, em parceria com a Secretaria Municipal de Educação (SME).

Em seu discurso, o corregedor-geral lembrou que o projeto foi idealizado há alguns anos pela juíza Sirlei Martins da Costa, hoje auxiliar da Presidência do TJGO, com a finalidade de desenvolver ações compartilhadas com o sistema educacional no sentido de contribuir para o desenvolvimento de competências emocionais na solução de conflitos de forma não violenta começando, justamente, pela formação das crianças e dos adolescentes. Ao apontar os resultados, o desembargador explicou que os números são surpreendentes e positivos, já que 27 facilitadores foram formados na primeira turma, sendo 2 membros do Ministério Público Estadual, além da identificação, por parte desses profissionais, de casos relacionados a saúde emocional e psicológica de crianças e adolescentes como tendências suicidas, automutilação e bulling.

“Essa metodologia trabalhada nesse processo de diálogo, que cria um espaço seguro para a discussão de questões e solução dos problemas, respeitando a individualidade e o direito de expressar seu sentimento diante da realidade vivenciada, desenvolvido em uma configuração circular, oportuniza e facilita a comunicação compassiva nas escolas, já que os partícipes são capacitados para atuarem em atividades de prevenção da violência e conflitos não judicializados”, pontuou.

Para Kisleu Dias, a responsabilidade do Poder Judiciário na construção das relações pacificadoras é eminente, pois, a seu ver, a prestação jurisdicional deve ser exercida como instrumento para a construção da paz social e para a afirmação da cidadania, consubstanciando-se, dessa forma, como um poderoso instrumento a serviço da população, visto que é chamado a contribuir para a efetivação dos direitos sociais, procurando dar-lhes sua real densidade e concretude. “A sociedade brasileira anseia por um Judiciário mais humanizado, com qualidade e celeridade dos serviços prestados, além da valorização de valores éticos e morais.

“A ampliação da visão do Judiciário para o futuro, passa pela modificação de uma mentalidade fixada apenas na norma formal escrita para uma noção ampla de todos os direitos, principalmente acerca dos princípios fundamentais e da realidade social, assumindo, assim, seu papel na busca de uma sociedade mais justa, igualitária e pacífica. A construção da paz deve começar dentro de cada um de nós”, ressaltou.

Representando o desembargador Marcus Ferreira da Costa, diretor da Escola Judicial de Goiás, o juiz Clauber Costa Abreu, vice-diretor da Ejug, falou sobre a importância do aperfeiçoamento de magistrados e servidores e de como projetos como o Pilares apontam caminhos eficazes para preparar as pessoas na solução dos conflitos. “Percebemos como magistrados, nas diversas demandas que julgamos todos os dias, uma incapacidade do ser humano para o diálogo, processos que se arrastam por anos por motivos que podiam ser solucionados apenas com uma boa conversa e um olhar compreensivo sobre o outro. O Pilares tem essa finalidade e, sem dúvida, o alcance social amplo, que se estende a todas as escolas de Goiânia, poderá evitar muitos problemas e conter vários tipos de violência”, frisou.

Atuação conjunta e olhar humanizado

Na visão do secretário municipal de Educação, Marcelo Ferreira da Costa, a parceria entre a Corregedoria e SME reflete diretamente no crescimento da rede de facilitadores. Ele destacou que hoje Goiânial possui 365 escolas e 104 mil alunos e que, justamente por essa razão, a capacidade de ouvir o outro é tão importante no sentido de prevenir conflitos e atos de violência por parte das crianças e adolescentes que, muitas vezes, trazem o problema de casa.

“A escola é vulnerável ao que acontece na sociedade. A perda da comunicação na era digital acaba sendo natural e isso gera vários tipos de conflitos e incongruências. É de extrema necessidade que o Poder Público, de forma uníssona, utilize ferramentas para se aproximar das escolas. O Projeto Pilares tem resultados muito significativos, temos que trabalhar o ser e o conviver com olhar diferenciado, propiciando às nossas crianças e adolescentes a possibilidade de que possam enxergar a se mesmas positivamente. Não se faz educação só no âmbito da escola, é preciso zelo e humanização nesse processo”, evidenciou Marcelo.

De acordo com a coordenadora da Comissão de Mediação Educacional e do Projeto de Resolução Criativa de Conflitos no Ambiente Educacional, Clédia Maria Pereira esse trabalho prevê a positivação dos conflitos e oferece instrumentos eficazes para administrá-los. A seu ver, a união de esforços entre o Tribunal de Justiça de Goiás, por meio da Corregedoria, e a SME para a resolução criativa desses conflitos já apresenta resultados muito positivos. “As pessoas precisam se sentir acolhidas aceitas e respeitadas no ambiente em que estão inseridas. No âmbito escolar não é diferente e o aprendizado jamais será exitoso em um contexto conflituoso. Através da mediação podemos ter uma melhor percepção dos profissionais que precisam de ajuda”, afirmou.

Agradecendo a participação de todos e dando as boas-vindas aos profissionais que receberão a capacitação, a representante da Secretaria Interprofissional Forense da Corregedoria, Maria Nilva Fernandes Moreira, explicou um pouco o significado do projeto e disse que ele é um marco importante no que tange à Justiça Restaurativa e ao Círculos de Construção de Paz. “Na verdade, o Pilares foi construído sob alicerces sólidos, com um olhar humanizado sobre o outro. Buscamos aqui a melhoria das relações, o momento reflexivo, a construção de valores incompreendidos. Compartilhamos saberes, somamos forças e primamos pela reflexão. Sabemos que todos os tipos de violência ocorrem por falta de diálogo e esse projeto salva vidas, muda histórias”, realçou ela.


Sobre o Projeto Pilares

O Projeto Pilares consiste na disseminação do respeito como aspecto primordial para que sejam estabelecidos o diálogo e as relações pacificadoras na solução de conflitos dentro das escolas. A valorização deste sentimento é reforçada pelos Círculos de Construção de Paz que tem sido promovidos nessas primeiras etapas com as equipes de apoio pedagógico das Coordenadorias Regionais de Ensino.

A apresentação desta metodologia relativa ao círculo de paz aborda temáticas relativas a habilidades sociais, comunicação não-violenta, promoção do diálogo, compartilhamento e resolução de conflitos, construção de relacionamentos saudáveis, estabelecimento de vínculos, valores, ética, resiliência, entre outros.

Já disseminado em várias escolas da capital, o Pilares surgiu em complemento ao Projeto Mediação Criativa de Conflitos, da SME. Entre os profissionais capacitados para atuarem como facilitadores, estão pedagogos, professores, psicólogos, musicoterapeutas, entre outros. Esta 2ª turma do Projeto Pilares, que começa a se formar neste evento, abrangerá mais 30 profissionais ligados a área educacional com a participação direta da Secretaria Interprofissional Forense da Corregedoria.

No ano passado, o Tribunal de Justiça do Estado de Goiás, por meio da Corregedoria-Geral da Justiça de Goiás, e a Secretaria Municipal de Educação de Goiânia, formalizaram um termo de cooperação para capacitar profissionais da Rede Municipal de Goiânia como facilitadores de Círculos de Justiça Restaurativa e de Construção de Paz. Também participaram do evento o juiz Donizete Martins de Oliveira, auxiliar da Corregedoria, o secretário-geral da CGJGO, Rui Gama da Silva, e o diretor de Planejamento e Programas da Corregedoria, Clécio Marquez.   (Texto: Myrelle Motta – Diretora de Comunicação da Corregedoria-Geral da Justiça de Goiás/Fotos: Aline Caetano - Centro de Comunicação Social do TJGO)