A escassez de aprovados para a carreira da magistratura em razão do rigor excessivo nas etapas a serem transpostas tem se repetido em seleções de vários Tribunais do País. No entanto, uma visão diferenciada e humanizada da banca examinadora responsável pelo concurso de juiz em Goiás tem atraído candidatos de todas as regiões do País. Cerca de 70% daqueles que disputam uma vaga para juiz no Estado, conforme adiantou o desembargador Leandro Crispim, que preside o 56º Concurso Público de Juiz Substituto do Estado de Goiás, são de diferentes localidades do Brasil. O certame está na fase de arguição das provas orais, realizadas desde sábado (2), das 8 às 18 horas, no auditório da Associação dos Magistrados de Goiás (Asmego), e avalia 58 candidatos já aprovados. 

Ao fazer uma análise geral sobre o concurso e o perfil dos candidatos, Crispim (foto abaixo) observou que os concorrentes são cada vez mais jovens e ressaltou como primordial a quebra de tabus por meio de uma postura mais humana e acolhedora. Conforme expõe o desembargador, a tarefa de escolher os novos magistrados é árdua e requer prudência, equilíbrio e sensibilidade, especialmente na fase das provas orais, na qual prevalece o aspecto emocional. “O concurso da magistratura precisa ser, de fato, mais rigoroso devido à natureza de decisão do cargo. Por outro lado, o que é cobrado pelas bancas, muitas vezes, é distante da prática de um juiz. Percebemos nos candidatos essa vontade de vestir a camisa desde os bancos da faculdade e sabemos que a batalha para chegar até aqui é dura. Não é segredo para ninguém que essa é uma época terrível para quase todos e a estafa toma conta devido a longa jornada de estudos intensos. Por isso, procuramos facilitar a vida daqueles que tem essa vocação agindo com justiça e humanidade. Necessitamos urgentemente dessa renovação na força de trabalho e estou convicto de que atingimos nosso objetivo que é estar em harmonia com esses valores”, preconizou.

Para o presidente da Asmego, juiz Wilton Müller Salomão (foto à esquerda), o intuito da banca é justamente deixar o candidato à vontade em uma das fases do concurso em que o fator emocional e psicológico é determinante. “Não estamos aqui para dificultar a vida do candidato e sim para selecionarmos bem aqueles que realmente tem vocação para a magistratura, sem preciosismos e com maior praticidade. Nosso concurso hoje é reconhecido nacionalmente e o TJGO é sempre lembrado pela boa relação com os colegas e receptividade”, realçou.

Embora reconheça que as provas para juízes possuem elevado grau de complexidade, o juiz Marcus da Costa Ferreira (foto à direita), integrante da banca pela segunda vez, chamou a atenção para a importância da coesão dos membros, que, a seu ver, devem ter uma visão uníssona e primar pela urbanidade e acolhimento dos candidatos. “Essa percepção homogênea da banca examinadora de Goiás acerca dos candidatos e o tratamento dispensando pelo Poder Judiciário de Goiás aos seus juízes nos coloca em posição de destaque. Nossa intenção é preparar os futuros magistrados para o exercício do cargo. Dessa forma, optamos por questões mais práticas e menos abstratas, que causem menos traumas possíveis. O nível é muito alto e tenho convicção de que teremos outros excelentes juízes no nosso meio em breve”, frisou, lembrando que seis candidatos já examinados são juízes em outros Estados.

Com 24 anos de magistratura e examinador do concurso pela quarta vez, o juiz Fabiano Abel Aragão Fernandes (foto à esquerda) lembrou que o concurso para juiz em Goiás também se acentua em âmbito nacional pela lisura e transparência, pois nunca sofreu nenhum questionamento dessa natureza“, informou.

Organização e planejamento

Para o desembargador Edison Miguel (foto à direita), um dos examinadores do certame, a credibilidade do concurso é inquestionável não só devido ao aspecto humano, mas com relação a organização e planejamento. “Nossa expetativa é a melhor possível, temos bons candidatos e o trabalho desenvolvido pela comissão e especialmente a dedicação do desembargador Leandro Crispim para que tudo ocorra de maneira transparente e ética devem ser amplamente reconhecidos”, enalteceu. Experiente nesta seara, o juiz Paulo César Alves das Neves (foto à esquerda), que faz parte da comissão desde 2009, destaca o aperfeiçoamento das técnicas utilizadas no concurso para juiz ao longo dos anos, que visam principalmente uma boa aferição e privilegiam eficiência. “Nosso objetivo é fortalecer a magistratura e aprovar o maior número de candidatos possíveis. Existem critérios específicos na seleção que não podemos deixar de lado, mas o rigor exacerbado contribui para emperrar a celeridade da própria Justiça, pois necessitamos de mais magistrados, em razão da alta demanda que nos assola”, observou.

Representando a Ordem dos Advogados do Brasil - Seção Goiás (OAB-GO), o advogado Flávio Buonaduce Borges (foto à direita), que participa da banca pela terceira vez, enfatiza que essa etapa do concurso é a mais traumática para o candidato, pois além de serem submetidos ao crivo de sete examinadores, ela exige de cada um uma mudança muito rápida de raciocínio. “Por essa razão é primordial que a banca tenha um olhar mais sensível para o candidato que fica naturalmente nervoso e ansioso. Percebemos muitas vezes que alguns deles estão muito bem preparados e atingem um nível alto, mas o emocional acaba tendo a maior influência. Tenho orgulho de dizer que faço parte dessa banca, onde os examinadores tem um cuidado especial com o examinado e sensibilidade para acolhê-los de forma justa, pois eles são atraídos justamente pela qualidade do TJGO”, pontuou. Outro aspecto ressaltado por Flávio Buonaduce é a produtiva e respeitosa parceria do TJGO com a OAB. “O bem trato institucional entre as duas instituições tem contribuído para a melhora da prestação jurisdicional, almejada por toda a sociedade”, afirmou.

Perfil acolhedor

A missão de vencer tantas etapas e conseguir a tão sonhada vaga não é para qualquer concurseiro. Além de ser formada em Direito e ter experiência em outros concursos, a advogada Leila Cristina Ferreira (foto abaixo), de 42 anos, que veio do Paraná para participar do concurso, assegura que é preciso ter perfil para a magistratura. “Hoje, apesar de alto, não é o salário que chama atenção dos candidatos para essa carreira, mas a paixão por decidir e fazer Justiça”, analisa. Atraída pelo perfil dinâmico e acolhedor do TJGO, ela conta que selecionou os Estados onde prestaria as provas e diz que ficou impressionada com a forma humana e calorosa com que foi recebida pelos componentes da banca examinadora de Goiás. “Na tentativa de conversar e nos acalmar os desembargadores e juízes vão até a nossa sala. Essa é uma atitude ímpar e nunca vi essa postura de uma banca examinadora em outro lugar do Brasil. Nos sentimos acolhidos enquanto profissionais e seres humanos”, exaltou. Sem conseguir dormir durante toda a noite, a paranaense, que foi a quarta a ser ouvida pelos examinadores no período da manhã, explicou que essa fase é a que mais mexe com o psicológico, mesmo sem considerá-la a mais difícil. “Na minha opinião a prova de sentença, por exemplo, é mais determinante. Mas a oral balança toda a sua estrutura emocional e psicológica, por isso vejo como primordial o acolhimento que recebemos aqui”, assegurou.

Giuliano Morais Alberici (foto à direita), de 26 anos, assistente de juiz na 5ª Vara Criminal de Goiânia, sabe bem o que quer. O goiano que conhece de perto os projetos e toda a estrutura do Tribunal goiano, já traça há algum tempo o caminho para vestir a toga. Com relação à forma com que a banca conduz os trabalhos, ele só tem elogios e garante que até mesmo os candidatos reprovados fizeram questão de engrandecer a conduta dos membros. “O direito em si já é uma área muito formada para concurso, os próprios professores e colegas nos incentivam a ser servidor. Considero o concurso longo e desgastante, mas também plausível com o trabalho de um juiz. Em Goiás, as provas são muito bem elaboradas e tentam realmente extrair o melhor dos candidatos. A banca é cortês, agradável e transparente e deixa os candidatos mais tranquilos e motivados. Sei que realizarei meu sonho e logo estarei sentado no meu gabinete”, brinca.

Para tentar conseguir a vaga, o paulista Alexandre Ferrari (foto à esquerda), de 28 anos, que foi avaliado na prova oral nesta manhã pelos examinadores, conta que conciliou os estudos com o trabalho como assessor jurídico no Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP), e que não dorme mais que cinco horas por dia. A seu ver, a postura dos membros da banca examinadora facilitou a exposição dos conhecimentos e fez a diferença para que saísse bem nessa etapa. “O conteúdo é muito difícil, vencer o edital, é quase humanamente impossível. Nessa parte do certame é preciso ter inteligência emocional e o comportamento cordial e acolhedor dos componentes dessa banca foi fundamental para que eu tivesse a calma necessária nesse momento decisivo. Eu estudo para o concurso da magistratura há dois anos todos os dias, de oito a dez horas, mas todo o esforço valeu a pena, estou muito satisfeito e não me imagino em outra carreira”, reiterou.

Rotina pesada

“Nem sei dizer o que é a minha vida antes dos estudos e nem há quanto tempo precisamente dedico a minha vida integralmente para me tornar um magistrado, acho que já se foram mais de oito anos”. A fala é do paulista Bruno Nascimento Troccoli (foto à direita), de 33 anos, que também está na corrida por uma vaga de juiz no TJGO, e segue uma rotina intensa de estudos com apostilas e videoaulas, inclusive nos fins de semana. A maratona que demanda imenso esforço intelectual exige sacrifícios e equilíbrio entre os estudos, família e trabalho. “Não é um processo simples e selecionei bem os lugares onde faria o concurso, até porque sou casado e quero uma vida melhor e mais tranquila para a minha família. Os rankings do TJGO são bem altos e meu principal interesse está aqui. Acima dos benefícios da vaga e da vocação para a magistratura, o candidato deve confiar no senso crítico para se destacar nas provas. Disposição e garra para romper paradigmas são qualidades fundamentais que um magistrado deve ter. Um bom juiz deve interagir com o meio em que trabalha”, opina.

O candidato Ronny André Wachetel (foto abaixo e à esquerda), de 37 anos, também natural de São Paulo e que trabalha no TJSP há 22 anos, acredita que estar familiarizado com o estilo da banca organizadora pesa positivamente  na hora da prova. Com pouco tempo disponível, ele mantém uma rotina diária de sete horas de estudo com intervalos de 30 minutos a cada duas horas. “Em Goiás, a banca procura ser coerente e justa em suas questões, isso me deu segurança para prestar as provas com tranquilidade. Vim para cá de coração aberto e as referências desse Estado são excelentes. Trabalho no Tribunal mais rico da federação, mas que não oferece estrutura alguma para o juiz que hoje está abarrotado com 10 mil ou 15 mil processos e conta somente com um assessor”, desabafa.

O resultado da prova oral do 56º Concurso Público de Juiz Substituto do Estado de Goiás será divulgado na quarta-feira (13), às 14 horas, na sala de sessão da 1ª Câmara Criminal do TJGO. O certame termina nesta sexta-feira (9), após uma semana de arguições relativas às provas orais e dedicação integral dos examinadores. Foram ouvidos de 8 a 9 candidatos por dia. (Texto: Myrelle Motta/Fotos: Hernany César - Centro de Comunicação Social do TJGO)

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