Representantes da Comissão Cultural do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (TJGO) receberam, na manhã desta terça-feira (10), das mãos do pintor naïf Waldomiro de Deus, a obra A Dor de Doverlândia. O quadro passará a integrar o acervo da Pinacoteca Desembargador Camargo Neto. 

Participaram da entrega da obra o presidente da Comissão, desembargador Itaney Francisco Campos; os desembargadores Luiz Cláudio Veiga Braga e Ney Teles de Paula, além do assessor cultural do TJGO, Gabriel Nascente. O quadro remete à tragédia que ocorreu em uma fazenda a 43 quilômetros do município de Doverlândia, na Região Sul de Goiás, onde morreram em decorrência da queda de um helicóptero, cinco delegados, dois peritos e o suspeito de ter cometido uma chacina, onde sete pessoas foram degoladas. O episódio é considerado uma das maiores tragédias já registradas no interior do Estado.

Waldomiro de Deus é reconhecido como um dos principais pintores naïfs brasileiros, palavra francesa que significa ingênuo. Suas obras retratam o cotidiano e têm a finalidade de levar uma mensagem crítica, a exemplo do quadro escolhido para integrar o acervo que, segundo ele, representa o momento em que o País se encontra. “O nosso País é tão grandioso, tem uma costa marítima que encanta o mundo, mas é uma pena que a violência tem coberto os quatro cantos”, salientou.

Honra

Aos 72 anos, o artista falou da satisfação em ter uma obra sua integrando o acervo do TJGO. “Fazer parte desse momento me honra muito. Os artistas precisam se sensibilizar e contribuir com esse acervo permanente que enriquece o patrimônio cultural de Goiânia e até de Goiás”, frisou.

O desembargador Itaney Campos destacou que Comissão valoriza a produção artística e cultural, além da mera produção judicial. Segundo o magistrado, é uma satisfação receber a obra que “é um trabalho de denúncia social das mazelas da sociedade brasileira tão desigual. A arte denuncia. O artista não pode ser omisso e se refugiar na fantasia”, enfatizou.

Gabriel Nascente agradeceu ao artista em nome do TJGO a doação para ampliação do acervo cultural e artístico da Pinacoteca, que atualmente é composta por cerca de 50 obras de arte.

Sobre o artista

Waldomiro de Deus é um reconhecido pintor primitivista brasileiro. Ele nasceu no dia 12 de junho de 1944 em Itajibá (BA). Aos 12 anos fugiu de sua cidade natal e começou a percorrer o Brasil. Foi de carona em um pau-de-arara que ele chegou a São Paulo, em 1958. Foi morador de rua, dormia nos bancos das praças, até que um policial da guarda civil o levou para a casa dele em Osasco. Em São Paulo, seu primeiro trabalho foi como engraxate. Sua primeira obra de arte foi uma escultura de barro, que mostrava uma santa em trajes modernos, a qual gerou muita polêmica. Waldomiro também morou no interior paulista, mas retornou a Osasco quando tinha 17 anos. De volta à capital, conseguiu emprego em uma casa como jardineiro. "No fundo da casa, encontrei tintas, pincéis e cartolina. Comecei a pintar de noite e a dormir durante o serviço", conta Waldomiro. Ele foi demitido, mas conta que foi um período em que produziu muito. (Texto: Arianne Lopes / Foto: Agnaldo Teixeira – Centro de Comunicação Social do TJGO)