O Comitê de Igualdade Racial do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (TJGO), coordenado pela juíza Adriana Maria dos Santos Queiroz de Oliveira, realizou na manhã desta quinta-feira (22), em parceria com a Escola Judicial do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (Ejug), o webinário “Nem Preto Nem Branco, Muito Pelo Contrário”, ministrado pela pesquisadora Yordanna Lara Pereira Rego e mediado pelo diretor do Centro de Comunicação Social (CCS) do TJGO, Luciano Augusto.

Ao fazer a abertura do encontro, Luciano Augusto fez uma breve introdução da obra, tema do webinário.  “Falando das questões sociais brasileiras, a gente vai lembrar sempre do popular ‘Preto rico no Brasil é branco, assim como branco pobre é preto.’, e é nesse contexto que essa obra foi criada. O trabalho de  Lilia Schwarcz , ‘Nem preto e nem branco: muito pelo contrário’ , revela um país marcado por um racismo muito peculiar, negado publicamente, praticamente na intimidade.” discorreu o mediador.

Yordanna Lara, já no começo de sua palestra, destacou a importância desse tipo de estudo literário e discussão sobre a formação do povo brasileiro, para que haja compreensão dos povos e mudanças de comportamentos. De acordo com a pesquisadora, há que se entender a história para conseguir incluir a diversidade, de ideias, gêneros e povos existentes no país. E explica que a história é “contada sem os corpos que habitam no Brasil” por conta da política de homogeneização, silenciamento e apagamento.

Sobre o livro, a historiadora enfatiza que apesar de ter grande importância na discussão racial, há que se lembrar de ter um cuidado de não colocar a obra como um clássico referencial que não pode ser criticado, “ pois Lilia é uma intelectual branca, da elite brasileira”, afirma. E continua: “Ela olha para a formação social do país de um lugar muito diferente de nós, pessoas negras, pesquisadores e pesquisadoras negras. Lilia tem a gente como um objeto de pesquisa, é uma grande crítica da academia e dos movimentos sociais a ela. Tem o seu respeito e sua consideração porque a obra dela é inegável na qualidade. Porém, ela não fala como a gente, ela fala da gente.” explica Yordanna Lara.

Educação inclusiva e diversa

Durante sua exposição, a antropóloga coloca que deve haver uma busca por educação inclusiva e diversa, já que o racismo e o patriarcado são estruturais no sistema e estão em todas as instituições de construção social que sustentam o Estado. “Se colocar como antirracista é buscar uma crítica a respeito do pensamento social brasileiro, da educação brasileira. O grande motor institucional do racismo no Brasil é ensinado nas escolas. E isso a gente não pode esquecer. Por mais que a tenhamos a educação como ferramenta de combate ao racismo.” afirma a pesquisadora.

Em sua fala,  Yordanna Lara ainda lembrou que, apesar de maioria, negros e indígenas não estão em lugares de referência intelectual, política e judiciária no Brasil. E conclui que o racismo estrutural está presente em toda sociedade, como também no Judiciário.

Por fim, discorre como os estudos mais recentes colocam que a “questão racial não está atrelada apenas a aspectos econômicos e sociais. No Brasil, há uma política de desigualdade e de produção da diferença.” E que a autora denuncia a eugenia, mestiçagem e a democracia racial brasileira ainda estabelecidos na história presente. Ela encerra sua palestra com a reprodução da música “Exú nas Escolas”, interpretada por Elza Soares.

O webinário faz parte do Fórum Permanente de Estudos Étnico-raciais, do Comitê de Igualdade Racial do TJGO, que procura contribuir para a promoção da igualdade étnico-racial e o combate ao racismo por meio da disseminação do conhecimento e informações sobre a luta de igualdade racial e representatividade. (Texto: Luísa Chacon, estagiária de jornalismo/ Foto: Acaray Martins- Centro de Comunicação Social do TJGO)

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