Na manhã desta quinta-feira (22), terceiro dia de programação da Semana de Inovação do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (TJGO), a emoção tomou conta do evento com a realização do quadro "Contando Histórias: Cepaigo 1996", onde magistrados compartilharam suas experiências como reféns numa das maiores rebeliões no País. Os desembargadores Gilberto Marques Filho, Fábio Cristóvão, e a desembargadora aposentada Avelirdes Almeida, e, ainda, o juiz auxiliar da Presidência do TJGO, Aldo Sabino, relataram histórias daquela revolta no antigo Centro Penitenciário Agrícola Industrial de Goiás (Cepaigo), em 1996, que durou sete dias, foi comandada pelo preso Leonardo Pareja e teve repercussão internacional. O evento, transmitido pelo canal do TJGO no YouTube, teve como mediadora a juíza auxiliar da Presidência do TJGO, Marina Buchdid.

A juíza Marina Buchdid fez a abertura do encontro e informou que o evento marcou a história do Poder Judiciário nacional. “E que foi também, para o Tribunal de Justiça do Estado de Goiás, um momento muito sensível de grande crise, mas que demonstrou também uma coragem ímpar por parte dos magistrados envolvidos”, relembrou a magistrada.

Relatos

Após quase 28 anos, os magistrados relataram e deram detalhes dos dias em que foram reféns na rebelião. Eles contaram suas experiências desde o dia que entraram no Cepaigo até o dia que saíram. Os desembargadores Gilberto Marques e Fábio Cristóvão, e o juiz Aldo Sabino, ficaram sete dias como reféns. Já a desembargadora aposentada Avelirdes Lemos foi liberada pelos presos no quarto dia de rebelião.

O desembargador Gilberto Marques Filho, à época juiz e diretor do Foro da comarca de Goiânia, relembrou das situações vividas e como foi o tempo que passou lá dentro. “Queríamos conhecer a realidade lá. Para nos alimentarmos, comíamos batata  que ficava dentro de um latão. Fui o último a ser liberado, no aeroporto de Cuiabá”, relembrou. A desembargadora aposentada Avelirdes Almeida Lemes, na época juíza, mostrou os presentes que ganhou dos presos e que guarda até hoje: uma bíblia e um porta-jóias. “Estamos vivos porque tivemos serenidade”, disse ela.

O desembargador Fábio Cristóvão, que era juiz criminal na época, contou como foram os dias sob a custódia dos presos. “Eles nos colocaram no fundo da ala e lembro que um preso me olhava muito. Isso me marcou”, relembrou. O juiz auxiliar da Presidência, Aldo Sabino, que na época era estudante do curso de Direito e filho do então presidente do TJGO, Homero Sabino, destacou a liderança de Leonardo Pareja e relembrou os momentos e as conversas que teve com ele dentro do presídio. “Tudo foi muito bem planejado e pensado. Me recordo que vi pela televisão o momento em que os servidores abraçaram esse prédio do Tribunal em solidariedade a nós, que estávamos lá dentro”, contou ele, emocionado. O pai de Aldo Sabino, Homero Sabino, na época era desembargador e presidente do TJGO, também foi um dos reféns mantidos pelos presos.


Fato histórico

No dia 28 de março de 1996, o Cepaigo, localizado em Aparecida de Goiânia, foi palco de uma rebelião que marcou a história do Poder Judiciário.  Sob condições precárias e após uma série de denúncias, uma comissão composta por renomados magistrados, incluindo o então presidente do TJGO, desembargador Homero Sabino, foi montada para inspecionar o local. No entanto, durante a inspeção, cerca de 400 detentos iniciaram uma rebelião, fazendo reféns, incluindo membros do Poder Judiciário e outras autoridades presentes. Sob o comando do preso Leonardo Pareja, considerado de alta periculosidade.

Naquela ocasião, as negociações foram conduzidas com coragem e determinação, destacando-se a atuação do desembargador Homero Sabino. Após diversas exigências, a rebelião culminou com a fuga de 40 detentos em oito veículos, incluindo 16 pessoas de alta periculosidade e seis reféns. (Texto: Arianne Lopes e Sara Ribeiro, estagiária de jornalismo/ Fotos: Edmundo Marques Neto- Centro de Comunicação Social do TJGO)

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