O vigilante Tiago Henrique Gomes da Rocha começa a ser julgado nesta segunda-feira (23) pela morte de Ana Lídia Gomes, de 14 anos. A sessão é realizada no 1º Tribunal do Júri de Goiânia, presidida pelo juiz Eduardo Pio Mascarenhas. É o nono julgamento por homicídio do acusado – juntas, as penas somam, até o momento, 192 anos de reclusão, contando, ainda, com duas sentenças condenatórias por roubo e por porte ilegal de arma de fogo. Mais uma vez, o réu optou por não comparecer - faculdade permita em lei.

Consta dos autos que o crime ocorreu no dia 2 de agosto de 2014, no Setor Cidade Jardim. A vítima aguardava transporte em um ponto de ônibus quando foi atingida por um tiro no peito, disparado por um homem em uma motocicleta preta. Foi o último crime cometido pelo vigilante antes de ser preso.

Segundo a primeira testemunha a ser ouvida, o motorista José Jacinto, o suspeito do assassinato agiu normalmente após efetuar o tiro. "Moro a 20 metros de distância do local onde a garota foi morta. Ouvi uma moto acelerar e, em seguida, escutei o barulho do disparo. Saí ao portão e vi um homem colocar a arma na cintura calmamente, como se nada tivesse acontecido. Em seguida, vi a jovem no chão. Chamei por socorro, mas ela já estava morta", relatou.

Sobre a identificação do motociclista autor do assassinato, José Jacinto afirmou que o "porte físico era idêntico" ao que ele viu na televisão, quando noticiada a prisão de Tiago Henrique".

Avô de Ana Lídia, Aloísio Fernandes Gomes, afirmou que a adolescente era amorosa, obediente e dedicada aos estudos. "Ela não costumava ir de ônibus à feira da lua, para ajudar a família. Aquele dia foi uma exceção, um desastre", falou em depoimento, bastante emocionado.

Na fase dos debates, o promotor de Justiça Maurício Gonçalves de Camargos (foto) afirmou que Tiago agia com consciência, o que justifica o enquadramento do homicídio em duas qualificadoras: impossibilidade de defesa da vítima - uma vez que Ana Lídia foi surpreendida-, e motivo torpe. "O réu, deliberadamente, optou por matar a vítima, sem nem conhecê-la, apenas por satisfazer sua angústia".

Como Tiago Henrique não compareceu ao julgamento, o representante da acusação pediu para exibir o vídeo da audiência, no qual o réu não respondeu as perguntas e "limitou-se a esconder o rosto, com a cabeça apoiada na mesa".

Apesar de reconhecer a materialidade e autoria do crime, a defesa pugna pela retirada das qualificadoras. "Um serial killer, assim como a polícia o denominou, não age com motivação, então, não há torpeza. Além disso, a vítima não foi atingida de inopino, não foi uma surpresa, pois Tiago Henrique a abordou pela frente", afirmou o advogado Hérick Pereira de Souza.

Os próximos julgamentos marcados são no dia 1º de junho, pelo homicídio de Adailton dos Santos Faria, dia 9, pela vítima Janaína Nicácio de Souza e, no dia 21, pelo assassinato de Beatriz Cristina Oliveira Moura. Há 31 casos de assassinatos nos quais o réu é apontado como autor, sendo que 27 têm decisões de pronúncia, isto é, para julgamento por júri popular. (Texto: Lilian Cury - Centro de Comunicação Social do TJGO)