Acompanhado dos dois melhores amigos, os cachorrinhos thor e princesa, desde que passou a morar na rua quando foi abandonado pela família no Ceará há cerca de sete anos, José Cláudio da Silva, de 40 anos, que não tinha nenhum documento desde que sua casa de palha pegou fogo, voltou a nutrir esperança de sair da dura vida que tem levado graças à emissão da segunda via da sua certidão de nascimento. Ele conseguiu o documento no encerramento da Semana Nacional de Registro Civil nesta sexta-feira, 12, no Centro Pop de Goiânia, quando conseguiu novamente a segunda via da certidão de nascimento.

“Eu só tenho os meus cachorros e o que restou da minha dignidade. Vivo um dia de cada vez e o lugar mais seguro que encontrei para morar foi debaixo de uma árvore em um lugar um pouco mais afastado aqui do Centro. Eu não tenho nenhum documento porque minha casinha pegou fogo há alguns anos e minha família me abandonou lá no Ceará”, relatou.

José conta que perambulou o País até chegar em Goiânia com um amigo, mas ambos tiveram que morar na rua porque não tinham dinheiro, emprego, nem conhecidos ou familiares.

“Meu amigo morreu de infarto num dia que passamos muito frio. Foi triste demais. Porque a vida na rua é uma dura realidade. Desse dia em diante o thor e a princesa passaram a ser meus melhores amigos, meus companheiros, que me defendem de gente ruim quando tô dormindo. Eu só consegui ter esperança de novo hoje, quando consegui a segunda via da minha certidão de nascimento. Se Deus quiser agora mudo de vida e arrumo um lugar digno pra morar quando conseguir um emprego”, comoveu-se.

Sonho realizado

Aproximadamente há cinco anos catando latinhas nas ruas de Goiânia para conseguir ajudar a filha de 12 anos, que tem um grave problema no coração, Humberto do Carmo Teixeira, de 46 anos, que mora embaixo de um viaduto, também terá a oportunidade de mudar a sua história após obter, nesta sexta-feira (12) a tão sonhada segunda via da certidão de nascimento e receber o encaminhamento para a obtenção do Bolsa Família, que o ajudará a custear as despesas no tratamento da menina.

“Eu não sabia que por não ter documento eu não tinha como ter acesso ao Bolsa Família. O problema da minha filha é muito grave e não tenho como pagar os remédios e o tratamento para ela. Moro na rua, mas deixei minha menina com a avó porque não quero que ela tenha esse exemplo na vida, nem passe pelo mesmo que eu. Saio daqui agradecendo a todo mundo pelo bom atendimento e a Deus que me dá uma nova chance”, acentuou.

Inserção na sociedade

Para Marcos Prado, coordenador do Centro Pop Goiânia, que lida cotidianamente com pessoas em situação de rua e com a população em vulnerabilidade social, o sucesso desse evento se deve justamente ao fato de que, com o documento em mãos, esses cidadãos passam a serem inseridos na sociedade.

“Esses serviços devem ter como premissa, antes de tudo, o acolhimento. Temos, por exemplo, uma média de 70% da população em situação de rua vinda de outros Estados. A grandeza dessa ação é imensurável e alcança vidas porque todo ser humano importa”, enfatizou ao pontuar que acredita que ocorreram mais de 4 mil atendimentos durante esta semana, pois cada serviço prestado, como um simples lanche, é contabilizado pelo Governo Federal.

Na opinião do cartorário Bruno Quintiliano, do Registro Civil das Pessoas Naturais de Aparecida de Goiânia, um dos cartórios que deram suporte nos atendimentos, o trabalho conjunto e a integração dos cartórios em âmbito nacional contribuiu para o êxito do evento, de amplo alcance social.

“Somente com uma união de esforços conseguiremos mudar a realidade desse cidadãos no País. O Registre-se! é uma iniciativa fantástica, digna de todos os aplausos”, engrandeceu. (Texto: Myrelle Motta - Diretora de Comunicação Social da Corregedoria -Geral da Justiça de Goiás)

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