Arte da série memórias, com foto do desembargador Benedito Camargo Neto

Camargo Neto, um juiz exemplar

Há pessoas cuja trajetória de vida constitui um halo de equilíbrio e mansidão que se reflete e se espraia pelos círculos de sua convivência, iluminando sua conduta e orientando seu destino. Pessoas inteiramente humanas, mais que humanas, humanísticas. Homens a cujo respeito o Evangelho de Cristo se referiu, qualificando-os de bem aventurados e classificando-os como mansos de coração, a quem a terra foi prometida. E também os céus.

Uma dessas pessoas, plenas de carisma, esteve em nosso meio, e deu o seu testemunho de serenidade, simplicidade e ponderação. E todos são unânimes a seu respeito, porque ele cativou o respeito e a admiração de todos. Foi um dos maiores juízes de Goiás, amado pelos jurisdicionados porque, ao longo de sua função julgadora, soube compreender e ouvir, aplicou a lei com ponderação e bondade, afastando a vaidade e a arrogância que não raro dominam os que assumem uma parcela do poder. Pai e esposo amoroso, de raízes na antiga Vila Boa, rebento de uma família de homem de cultura, esse magistrado exemplar foi o desembargador Benedito Soares de Camargo Neto.

Posso dar o testemunho de que, em minha terra natal, Uruaçu, onde esteve de agosto de 1991 a novembro de 1993, deixou a lembrança de um juiz correto, equilibrado, sério e modesto, sem perder a dignidade exigida pela função. Mais do que admirado, foi querido. E deixou admiradores também nas comarcas de Ivolândia, Petrolina e Goiânia, sobremodo neste Tribunal, para o qual foi nomeado em setembro de 2009, após longo período em que atuou como substituto de vários desembargadores, sobretudo do magistrado Agnaldo Denizart, acometido de insidiosa enfermidade.

Camargo Neto, o Neto para os amigos, aposentou-se em outubro de 2013, acometido de pertinaz moléstia, que lhe devorou o pâncreas. Cerca de dois anos depois, retornou às dimensões espirituais, legando saudade, tristeza, prantos e exemplos irretocáveis de modéstia e grandeza no seu trabalho de magistrado.

Apesar de seu curto período no segundo grau de jurisdição, na condição de titular do cargo, soube marcar sua judicatura pela sabedoria na interpretação da lei, conhecimento seguro do direito, convívio respeitoso e amável com os seus pares. Além disso, nunca escondeu a sua condição de homem sensível, amante das letras e crente no ideal da Justiça. A par disso, valorizava a boa escrita, as melhores tradições da nossa história e da Justiça brasileira.

Desembargador Itaney Campos
Presidente da Comissão de Cultura e Memória do TJGO

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