“Não agi de má fé. Estou muito arrependida. Realmente negociei os aparelhos de celular e pretendo ressarcir essas pessoas com o dinheiro do meu trabalho como professora de italiano.” A confissão espontânea foi feita por Bruna Cristine Menezes de Castro, de 25 anos, apelidada de Barbie, durante audiência de instrução e julgamento realizada nesta terça-feira (8), na 11ª Vara Criminal de Goiânia, sob a presidência do juiz Donizete Martins de Oliveira.

Ela é acusada de estelionato, em Goiânia, contra Alex Sandro Piretti Marques e Luiza Almeida Borges pela venda falsa de aparelhos celulares da marca iPhone 5, inclusive pelas redes sociais. Também é suspeita, pela Polícia Civil, de aplicar o golpe em outros Estados e oferecer produtos importados pela internet.

Durante seu depoimento, Bruna, que permaneceu altiva e passou todo o tempo calma, com o olhar firme para o juiz, promotor e defensor quando questionada, afirmou que sua intenção era trazer os aparelhos dos Estados Unidos da América, uma vez que havia programado sua lua de mel para a época em que efetuou as supostas vendas que causaram prejuízos aos clientes. “Infelizmente, por motivos pessoais, essa viagem não aconteceu. Mas pretendo pagar tudo o que devo a essas duas pessoas”, realçou.

Quando foi questionada pelo promotor Joel Pacífico de Vasconcelos sobre o CPF inexistente incluso no recibo que repassava às vítimas, Bruna não soube responder o motivo pelo qual o número era falso. “Não me lembro do meu CPF direito nem tenho como responder isso agora”, ressaltou. Ela contou ainda que dava aulas de italiano e trabalhava na empresa do padastro antes de ser presa. “Sempre vivi dignamente e trabalhava como qualquer outra pessoa”, frisou.

Uma das vítimas de Bruna, Alex Piretti descreveu o golpe com detalhes e reforçou o fato de que ela apresentava inúmeras desculpas, algumas de gravidade extrema como o filho doente, para não entregar os celulares ou pagar o que devia pelo prejuízo sofrido, correspondente a R$ 3,1 mil. “Solicitei meu dinheiro de volta muitas vezes quando percebi que ela não ia me dar o aparelho e cheguei a anexar algumas conversas que tive com essa mulher que chegou a fazer um depósito em envelope vazio no Banco Bradesco para fingir que o valor tinha sido devolvido”, evidenciou, ao lembrar que nunca tinha visto Bruna antes da negociação, que aconteceu por intermédio da estagiária da sua namorada.

Ao narrar que em março de 2014 anunciou na rede social Facebook que estava interessada em um iPhone 5, Luiza Borges, a outra vítima da Barbie, salientou que ela foi educada desde o início e que entregou nas mãos dela, em sua residência, 700 reais, metade do valor cobrado pelo celular. “Dei um tempo de um mês e registrei o boletim de ocorrência. Ela dava desculpas de todo jeito, dizia que iria me ressarcir e depois parou de atender o telefone”, mencionou. Segundo Luiza, no mês passado ela teve um encontro inesperado com Bruna em um show de Brasília, mas ela fingiu que não a conhecia. “Ela estava muito bem vestida, no melhor camarote do espetáculo. Fui aonde ela estava e a interpelei dizendo que já tinha tomado providências contra ela. Mas, ela nem olhou direito para mim e fingiu que nunca tinha me visto”, indignou-se.

“Bom comportamento”

Também ouvida por Donizete Martins de Oliveira, a prima de Bruna, Carolina Eugênia de Sena Correa declarou que não tinha conhecimento dos fatos e que Bruna sempre foi uma pessoa tranquila, carinhosa, voltada para a família e boa mãe. Ela atestou que sua parente nunca esbanjou dinheiro e que, inclusive, saíam juntas no seu carro. “A Bruna não é rica, mas comprava roupas, andava arrumada e maquiada como toda mulher. Nunca suspeitamos de nada porque o marido dela tem boa condição financeira e sempre achamos que ele sustentava a casa”, reiterou. Ela confirmou ao juiz que a denunciada dava aulas de italiano e que chegou a morar na Itália, onde reside a sua mãe, por aproximadamente oito anos. Relatou ainda que Bruna se separou recentemente do companheiro e que o filho, de 2 anos, ficou com pai. “Não sei por qual razão a criança ficou com o ex-marido dela, mas eles sempre tiveram aparentemente um bom relacionamento”, sustentou.

Numa análise apurada dos fatos, na argumentação oral, o promotor Joel Pacífico pediu que a pena privativa de liberdade seja convertida em prestação de serviços à comunidade, já que a denunciada confessou os crimes espontaneamente, não tem antecedentes criminais e a pena não pode ser estipulado em um prazo superior a quatro anos. “Não existe garantia de que uma pessoa solta não volte a delinquir. No entanto, não podemos prolongar a prisão, uma vez que a denunciada é tecnicamente primária e não está formalmente acusada de outros crimes. O MP não deve ser um órgão para condenação, nossa obrigação é resguardar o direito de todos os cidadãos”, esclareceu.

Após as alegações finais apresentadas pelo promotor Joel Pacífico e pelo defensor Flávio Cavalcante, que teve o mesmo posicionamento do representante do Ministério Público do Estado de Goiás (MPGO), o juiz Donizete Martins explicou que a sentença sobre o caso deve sair ainda nesta semana. Embora tenha 10 dias para proferi-la, prazo previsto na lei, o magistrado observou que como Bruna está presa há quase um mês, ela tem preferência, conforme estabelece norma legal.

Os golpes

Segundo a denúncia formulada pelo MPGO, entre 1º de novembro de 2013 e 31 de março de 2014, Bruna Cristine obteve vantagem ilícita ao causar prejuízos a Alex Sandro e Luiza Almeida, induzindo-os a erro, mediante fraude, com a suposta venda de aparelhos celulares que nunca foram entregues. Consta dos autos que Alex, por indicação de Carolina Meirelles Sartori, que trabalhava como estagiária para sua namorada, entrou em contato com Bruna porque ele queria adquirir iPhones. Na ocasião, a garota informou a ele que Bruna sempre tinha esses celulares novos.

Diante da indicação, a vítima entrou em contato com a denunciada e foi até o seu apartamento, no Setor Nova Suíça, para comprar os aparelhos. Chegando lá, ele foi recebido por Bruna que afirmou ter dois aparelhos celulares da marca iPhone 5 e assegurou-lhe que os entregaria naquele mesmo dia, à tarde. Alex, então, entregou-lhe R$ 2 mil em dinheiro e depositou o restante (R$ 1,1 mil) na conta da acusada, totalizando o valor de R$ 3,1mil. Contudo, os celulares não foram entregues e ela passou a dar várias desculpas como problemas de saúde com o filho ou afirmar que os iPhones não estavam em Goiânia. Diante da insistência da vítima, ela garantiu que devolveria o valor pago pelos aparelhos e chegou a efetuar um depósito na conta bancária de Alex com um envelope vazio.

Foi apurado também pelo órgão ministerial, que Bruna tinha um perfil no Facebook e também aplicou o golpe em Luiza quando ela informou na rede social que estava interessada em comprar um iPhone 5. Dessa forma, ela fez contato com a vítima dizendo que viajaria para os Estados Unidos no mês de abril, onde compraria o aparelho, cujo valor fixado foi de R$ 1.850,00. Segundo relata a denúncia, Luiza pagou R$ 700 de entrada pelo celular e ligou para Bruna no dia da suposta volta dos EUA. No entanto, Luiza também recebeu inúmeras desculpas, inicialmente de que a denunciada havia perdido o vôo de retorno, depois que ela estaria em Minas Gerais para o velório de um parente e, na sequência, que o filho estava internado em estado grave em um hospital de Brasília. Contudo, em determinado momento, Bruna não atendeu mais aos seus telefonemas.

No curso das investigações, a denunciada foi intimida para prestar esclarecimentos mas, apesar de comprometer-se a comparecer na delegacia, passou a apresentar desculpas, dizendo que o filho estava internado em Minas Gerais, dentre outras. Por fim, ela se mudou do endereço conhecido pela polícia. Tal conduta incorreu para que ela fosse denunciada por estelionato. Ela teve a prisão preventiva decretada pelo juiz Donizete Martins em 13 de maio deste ano e está presa desde o dia 11 de agosto na Casa de Prisão Provisória (CPP), em Aparecida de Goiânia. (Texto: Myrelle Motta/Fotos: Wagner Soares – Centro de Comunicação Social do TJGO)

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