As ações penais movidas contra o suposto serial killer Tiago Henrique Gomes da Rocha, pelos crimes de homicídio cometidos contra Ana Lídia de Sousa Gomes e Bárbara Luíza Ribeiro Costa, foram suspensas até a divulgação do laudo do exame de insanidade mental do acusado. A determinação é do juiz Eduardo Pio Mascarenhas, da 1ª Vara Criminal de Goiânia, que presidiu as audiências de instrução preliminar realizadas nesta segunda-feira (23), no auditório do 1º Tribunal do Júri, em Goiânia.

A pedido da defesa, o magistrado já havia requerido, em audiência de outro processo, a realização do exame de insanidade mental de Tiago, que foi feito no dia 6 de fevereiro pela Junta Médica Oficial do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (TJGO). A previsão é de que o resultado seja divulgado no prazo de 15 a 20 dias.

De acordo com o juiz, o laudo deverá ser utilizado em todos os processos que são movidos contra o suposto serial killer, inclusive os outros nove que estão na 1ª Vara Criminal. “Não justifica pedir um exame de insanidade para cada processo, pois além de onerar, já que tem custos, prejudica a celeridade dos casos”, destacou. Ele acrescentou ainda que após a conclusão do laudo, acusação e defesa poderão apresentar as últimas alegações, em forma de memoriais, conforme previsto no artigo 403, parágrafo 3º, do Código de Processo Penal. “Só depois do resultado do laudo é que será decidido se Tiago vai ser levado a júri popular ou não”, enfatizou.

Depoimentos
As audiências realizadas nesta segunda-feira foram relacionadas aos homicídios praticados contra Ana Lídia de Sousa Gomes, ocorrido no dia 2 de agosto de 2014, e Bárbara Luíza Ribeiro Costa, em 18 de janeiro do ano passado. O Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO) e a defesa arrolaram testemunhas, que foram ouvidas durante as audiências. Jornalistas, familiares e amigos das vítimas, estudantes do curso de Direito e demais pessoas estiveram no local para acompanhar os depoimentos. O suposto serial killer também esteve presente nas duas audiências, escoltado por policiais, mas ficou o tempo todo de cabeça baixa e não respondeu a nenhuma pergunta feita pelo juiz Eduardo Pio Mascarenhas ou pela acusação. Durante os depoimentos, a defesa fez poucas perguntas às testemunhas.

O delegado Murilo Polati Rechinelli – que atuou na força-tarefa para investigação dos casos - foi o primeiro a falar na audiência da ação penal movida contra Tiago pelo assassinato de Ana Lídia. Questionado pela acusação - os promotores de Justiça Maurício Gonçalves de Camargo e Rodrigo Félix Bueno -, Murilo contou como foram as linhas de investigação traçadas pela equipe para solucionar o caso do serial killer. Ele ressaltou que foi possível chegar até Tiago após a força-tarefa investigar crimes semelhantes que estavam sendo cometidos contra casas lotéricas e estabelecimentos comerciais. “Sabíamos que era a mesma moto utilizada em diversos crimes, apenas com mudanças na capa e placas. Depois das apurações, conseguimos levantar as provas e efetuar a prisão do acusado”, enfatizou.

De acordo com Murilo, a princípio a equipe investigava 15 crimes relacionados aos homicídios, que depois subiram para 18. “Ao final, chegamos ao número de 39, que foi a quantidade confessada por Tiago. Depois, amparado por advogados, ele reduziu para 29 assassinatos”, listou. Em todos os interrogatórios, afirmou o delegado, Tiago sempre se manteve frio, calculista e sem mostrar qualquer tipo de sentimento de arrependimento. “Ele era bastante vaidoso também. Se preocupava até com a fotografia, pois queria passar um perfil diferente para a população”, disse.

Também foram ouvidas como testemunhas Wagner Martins da Silva, que participou da diligência que fez buscas na casa de Tiago, quando foram colhidas provas como a arma usada nos crimes; José Luiz Jacinto, que morava próximo ao ponto de ônibus onde o crime foi praticado; e Wellington Antônio da Silva, motorista do caminhão que seguiu o suposto serial killer.

Bastante emocionado, Aloísio Fernandes Gomes, avô de Ana Lídia, lembrou da rotina da neta no dia do crime. “Ela saiu às 15 horas para ir para a Feira da Lua. Sempre ia de carro com alguém, mas nesse dia resolveu ir sozinha. Nós pensamos que ela iria até o ponto final do ônibus, onde é mais movimentado. Mas a minha neta resolveu ir para o ponto que sempre tinha pouca gente. Depois de um tempo, recebemos uma ligação, em casa, falando que ela tinha se acidentado. Quando fomos até lá, vimos aquela cena desagradável. Ela era uma menina alegre, muito inteligente e tinha muitas amizades. Ela contagiava todas as pessoas com sua alegria”, disse.

Comoção
Ouvida como testemunha na ação penal contra Tiago pela morte da jovem Bárbara Luíza, a avó da garota, Valdomira Ribeiro do Nascimento, bastante emocionada, chamou o suposto serial killer de monstro por várias vezes durante a audiência. Ela gritou para que ele erguesse a cabeça, pois no momento do crime teria matado sua neta de cabeça erguida. Devido ao nervosismo, ela precisou deixar o 1º Tribunal do Júri até a saída de Tiago do local.

O pai de Bárbara, Sidney Custódio da Costa, também respondeu as questões dos promotores de Justiça. Ele contou que a filha estava na casa da avó e que teria ido ao salão, enquanto o tio e a própria avó foram a um supermercado. “Ela terminou de fazer as sobrancelhas e saiu do salão. Logo ele passou de moto e matou minha filha. Eu e a mãe dela estávamos indo buscá-la na casa da avó, quando meu cunhado ligou falando o que tinha acontecido. Quando chegamos, ela já estava morta. Ela ia fazer 15 anos, mas era apenas uma criança”.

Além da avó e do pai da vítima, foram ouvidas outras testemunhas como Diego Santana de Oliveira e Roberto Machado Júnior, vizinhos do salão onde a garota foi assassinada, e o tio de Bárbara, Éder Pereira do Nascimento. (Texto: Fernando Dantas / Fotos: Hernany César – Centro de Comunicação Social do TJGO) Veja galeria de fotos

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