Uma parceria entre o Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (TJGO) e a Universidade Federal de Goiás (UFG) dará origem a uma cartilha de equidade e diversidade de gênero. Para isso, foi assinado nesta terça-feira (8), Dia Internacional da Mulher, um termo de parceria entre o Poder Judiciário goiano e aquela instituição de ensino. O trabalho será desenvolvido não só para o âmbito interno, mas também beneficiará toda a sociedade civil. O termo foi assinado pelo coordenador do Comitê de Equidade e Diversidade de Gênero e vice-coordenador da Coordenadoria Estadual da Mulher em Situação de Violência Doméstica e Familiar, juiz Vitor Umbelino Soares Júnior, e pela professora Maria Meire Carvalho, do Coletivo Feminista G-Sexy, dentro da programação do segundo dia da 20ª Semana Nacional da Justiça Pela Paz em Casa.

A data de hoje – 8 de março, Dia Internacional da Mulher – é, para o juiz Vitor Umbelino, um dia de “comemorar vitórias e avanços, mas também de lembrar da situação de inúmeras mulheres que sofrem, diuturnamente, com o fenômeno da violência”. O magistrado pontuou, ainda, que diante dos problemas da discriminação de gênero e desigualdade entre homens e mulheres, é importante estender “a reflexão sobre essa questão da igualdade de gênero não só na sociedade, mas no âmbito das nossas próprias instituições. E o TJGO dá um passo importante não só com a criação do comitê, mas com uma ação concreta no sentido da assinatura da cartilha da igualdade e respeito à diversidade de gênero”.



Na avaliação do juiz Vitor Umbelino, as repostas às violências aos direitos humanos ainda são insuficientes. “É preciso enfrentar as deficiências, compreendendo o regime abrangente da legislação internacional e nacional de promoção dos direitos humanos e aplicação a todas as questões de equidade e diversidade de gênero”, destacou o magistrado.

Representante do Coletivo Feminista G-Sex, a professora Maria Meire Carvalho leu um poema de sua autoria chamado “Maria”, onde ressalta a importância de defender outras mulheres. O G-Sex completa 13 anos em 2022, “um trabalho acadêmico e comunitário de luta em prol de todas as mulheres, contra violência, racismo e todas as formas de violência”, declarou a professora, para quem a parceria entre o Comitê de Equidade do TJGO e o Coletivo G-Sex é “um momento histórico”.

Palestra
Este segundo dia da 20ª Semana Nacional da Justiça Pela Paz em Casa também trouxe a participação da empresária Bárbara Rodrigues Leão e da analista de cultura Ariel Luz M. P. Rodrigues, duas mulheres trans que contaram suas histórias e os desafios que enfrentaram e enfrentam ao longo da vida. O bate papo foi mediado pela advogada e integrante do Coletivo Feminista G-Sex, Letícia Garces de Souza.



A advogada apresentou alguns dados relacionados à população trans no Brasil: o país é o que mais mata pessoas transgêneros no mundo; 90% vivem à margem do trabalho formal e grande parte vai para prostituição ou criminalidade. Ela ressaltou a importância de políticas públicas educacionais para mudar essa realidade.

“A representatividade gera um reconhecimento e ele contribui para que as pessoas se interessem, para que a população trans perceba que existem outras oportunidades, que cada uma de nós podemos sim conseguir ser advogada, juíza, empresária, que podemos sim ocupar o nosso lugar na sociedade”, declarou Letícia, destacando, ainda, o direito ao nome social e lembrando, inclusive, que o Poder Judiciário Estadual garante a inclusão do nome social nos processos.

“Eu vim conseguir ser chamada de Bárbara Rodrigues Leão no Brasil tem, mais ou menos, um ano e eu sou Bárbara Rodrigues Leão há mais de 30 anos”, contou a empresária, vítima de bullying durante toda a infância e adolescência. Para Bárbara, o ponto mais importante a ser abordado é a educação da família da criança trans e também o apoio da escola. “Deixo uma reflexão para se amar mais as crianças trans. Como ajudar para não sofrer. A base é o amor. Para chegar onde chegamos é uma luta constante, e precisamos de mais oportunidades para mostrarmos que somos como qualquer outra mulher, só precisamos de ajuda, força e muito amor de todos para chegarmos até aqui”, apontou a empresária.

Idealizadora do projeto TransMISSion, o primeiro concurso de miss para mulheres trans com propósito social, Ariel Luz M. P. Rodrigues também acredita que a educação é um divisor de águas na vida das pessoas trans ou cisgêneros. “A minha vida trans começou aos 40 anos, mas foi graças à minha graduação que comecei a ter acesso à empregabilidade digna, decente e com salário bacana”, disse Ariel, explicando que o TransMISSion busca empoderamento, empregabilidade e capacitação dessas mulheres.

“Temos de chamar a atenção da sociedade, não basta acreditar que vai vir da política, das pessoas que têm poder, a gente tem de pedir para a sociedade aparecer e exigir que sejamos tratadas como todo mundo merece ser tratado. O mais importante é colocar na cabeça das pessoas que elas podem ser o que elas quiserem”, indicou Ariel.

Concurso TransMISSion
Ao final da palestra, as finalistas do concurso TransMISSion 2022 foram anunciadas. Confira o nome das dez selecionadas: Bheatryz Emanuelle, Bruna Oliveira, Céu Abreu, Choyces Silva, Diana D’arc, Emilly Reis, Karlla Eduarda, Lana Luisa, Luiza Aibar, Regina Barbosa. Veja galeria (Texto: Daniela Becker / Fotos: Acaray Martins - Centro de Comunicação Social do TJGO). 

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