Rodas de conversa e visitas a escolas e creches da comunidade quilombola Vazante fizeram parte da programação do Justiça Itinerante, que realiza sua terceira edição em Divinópolis de Goiás. A juíza Érika Gomes Barbosa Cavalcante, que preside o Comitê de Acesso à Justiça e que no evento representa o presidente do Poder Judiciário Estadual, desembargador Carlos França, comandou a iniciativa.

Além dela, o juiz Leonardo Souza Santos, titular de Niquelândia e respondente de Cavalcante; o promotor Douglas Silva Dias; os defensores da União, Eduardo Flores Vieira, e estadual, Ana Paula Vico, e a advogada de São Domingos Viviane Divina da Silva também participaram da ação.

Num ambiente informal, os operadores do Direito conversaram com crianças e adolescentes do Colégio Estadual Gregório Batista de Assis, da Creche Municipal Flor de Lis e da Escola Municipal Vereador José Torres Quintanilha sobre abuso sexual e as formas de prevenção e denúncia, além de discutir temas como Violência Doméstica Contra a Mulher e bullying. “Nós estamos aqui para auxiliar vocês; existimos enquanto profissionais para protegê-los e orientá-los sobre quaisquer denúncias ou dúvidas que vocês tiverem”, afirmou a juíza Érika Cavalcante (foto abaixo).

A linguagem simples e a juventude dos juízes, promotor e defensores chamou a atenção dos estudantes e facilitou a comunicação com os jovens do Gregório Batista de Assis, que também receberam cartilhas sobre os assuntos discutidos. “Foi ótimo, pois adquiri conhecimento. Agora sei que, caso a gente não tenha condições financeiras para denunciar, a gente pode recorrer à justiça gratuita. Somos uma comunidade isolada e de baixa condição financeira, então é importante saber”, afirmou Cintia Ribeiro Veloso (foto abaixo), de 12 anos, que cursa a 7ª série.

Para Claricy Pereira Costa (foto abaixo), 12 anos e também aluna da 7ª série, a informação mais importante que ela extraiu do encontro foi “saber que a gente não pode ficar calada em caso de violência sexual e contra a mulher. Temos de contar para as mães ou procurar a Justiça e pedir para que eles tomem providências”, relatou ela, que estranhou a juventude dos representantes do Poder Judiciário. “Achei que eram mais velhos e muito sérios”, contou.

Roda de conversa


A manhã da quarta-feira foi encerrada com uma roda de conversa em espaço ao lado Casa Heleno Maia com moradores da comunidade quilombola de Vazante, que também contou com a participação do juiz Felipe Sales Souza, da comarca de São Domingos e o procurador do Ministério Público do Trabalho em Goiás, Tiago Ranieri de Oliveira. Os moradores se sentiram à vontade para compartilhar relatos de violência doméstica, como uma mãe que se emocionou ao contar que quase perdeu a filha que era agredida pelo marido e como a violência e a prisão do homem afetou seu neto.

Casos de racismo, trabalho infantil e superação também foram relatados na oportunidade, quando tanto a população quanto os integrantes do sistema de justiça compartilharam experiências e percepções. “Estamos muito gratos, pois essa é uma oportunidade única. Direito de gente pobre, preta e desfavorecida é difícil de ser alcançado e fácil de ser retirado”, afirmou Josemiro Prado, líder da comunidade quilombola.

Comunidade
A comunidade quilombola de Vazante tem atualmente cerca de 320 famílias campesinas, que vivem da agricultura familiar e extrativista - principalmente o baru -, atividades predominantes também nos assentamentos Marcos Lins e Riacho Seco. (Texto: Aline Leonardo - Fotos: Aline Leonardo e Cecília Araújo - Centro de Comunicação Social do TJGO) 

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