Arte da série memórias do judiciário com foto de Clenon de Barros Loyola

 

A série Memórias do Judiciário de Goiás apresenta, nesta terça-feira (18), dois textos escritos em homenagem aos 100 anos de nascimento de Clenon de Barros Loyola, completados no dia 25 de agosto de 2020. O desembargador dá nome ao edifício sede do Poder Judiciário goiano, o Palácio da Justiça Clenon de Barros Loyola.

Texto 1

Hoje (texto publicado em 25 de agosto de 2020), papai faria 100 anos, ele viveu pouco, 68 anos e sempre sentirei falta de seus conselhos, a saudade é constante. Papai sempre foi um menino calmo e encantador, segundo diziam os tios e primos. Nasceu em Goiás na Rua do Carmo número 32, depois mudou com seus pais para a Rua da Abadia número 35.

Estudou no Lyceu de Goiás e, embora tenha nascido em uma família em que muitos eram vocacionados ao Judiciário, ele primeiro optou pelos cálculos, era fascinado pela engenharia. Como em Goiás não tinha esse curso ele foi para o Rio de Janeiro e lá morou com sua tia Nhá - Maria da Aleluia de Bastos Barros Caiado, esposa do Senador Mário de Alencastro Caiado, por quem papai tinha muita admiração. Já cursando o segundo ano da faculdade de engenharia, ele recebeu a notícia de que sua mãe, Geny, não estava bem de saúde, voltou para Goiás para vê-la e não quis retornar ao Rio de Janeiro, resolveu ficar perto da mãe. Por aqui, ele decidiu seguir a carreira da família cursando a Faculdade de Direito de Goiás.

Tudo o que fazia era com a determinação de fazer o melhor, assim ele se tornou um expoente na profissão que escolheu, passou em primeiro lugar no concurso para Juiz de Direito e sua atuação no Judiciário foi reconhecida com elogios e condecorações. Mas ele diria: “cumpri com minha obrigação.”

Qualquer pessoa responsável sabe que cumprir corretamente o seu trabalho não é mérito e sim dever cívico, obrigação. “Foi grande sem querer sê-lo no cumprimento do dever”, frase dita por um admirador seu, meu sogro Mauro Borges Teixeira, que também entendia do que é dever cívico e o que é ter espírito público.

Ele mereceria homenagens e comemorações extras em seu centenário pelo que foi, pelo que fez por Goiás, pelo Judiciário e como mestre do Direito, como nos sugeriram. Contudo ele as recebeu em vida, teve o respeito dos amigos, dos colegas de trabalho, dos colegas de faculdade, dos alunos do curso de Direito da UFG, onde ele foi paraninfo e patrono de muitas turmas, e, ainda, após a sua morte, foi homenageado por seus pares que colocaram o seu nome na sede do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás.

Comemoramos seu centenário de nascimento desembargador, professor e pai Clenon de Barros Loyola lembrando a sua amável presença entre nós, do pai zeloso, do avô carinhoso, dos sábios conselhos, da sua sensatez, de seu caráter justo, de sua cordialidade, de seu sucesso profissional, do grande jurista que foi, lembrando do nosso amado pai.

"Se a Magistratura é o esteio para a sustentação da ordem pública, a sua falta é o elemento que desencadeia a anarquia". Clenon de Barros Loyola, em 1974.

Maria Dulce Loyola Teixeira, filha de Clenon de Barros Loyola
Em 25 de agosto de 2020


Texto 2

Clenon tinha o perfil de líder, naturalmente carismático. Uma grande figura do Judiciário goiano, como o foram o pai e o avô, Ignacio Bento de Loyola e Coriolano Augusto de Loyola, este nascido em Recife, filho do jornalista revolucionário Ignacio de Loyola.

Não posso deixar em branco este momento, este instante Clenon de Barros Loyola. Meu brilhante colega de magistério na Faculdade de Direito da UFG; meu símbolo e significado da dignidade da magistratura. Simples, descomplicado, mas profundamente lógico na exposição de seu pensamento, na sala de aula ou no plenário do Tribunal ou de sua Turma Julgadora. Como advogado privado ou público (procurador do Estado) tive a honra de comparecer ao átrio do Tribunal goiano, para sustentações orais em feitos em que o desembargador Clenon era relator. Numa delas, fazendo sustentação oral de um lado e do outro estando o notável e jamais esquecido advogado Wanderley de Medeiros, num caso penal intrincado, vi o excepcional magistrado fazer o relatório oralmente, sem deixar de lado um único aspecto relevante do caso.

Conduta ilibada, amizade sincera, mas que jamais interferia na imparcialidade do julgamento, Clenon era a imagem do magistrado. Pensou juiz, pensou Dr. Clenon! Que saudade daqueles tempos em que a sacralidade da Justiça decorria da imagem e postura de seus integrantes. Clenon deixou discípulos. Peço a Deus que me permita, ao encerrar minha carreira de professor e advogado, ser visto como vejo este verdadeiro ícone: servo do direito, escravo fiel da verdade e da equidade, cultor da fidalguia no trato e da honestidade total das atitudes. Obrigado, inesquecível mestre Clenon de Barros Loyola!!!

Getúlio Targino Lima
Em 25 de agosto de 2020

 

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