Repensar o padrão de consumo e o descarte seletivo de produtos, assumindo, assim, o compromisso de utilizar, especialmente no ambiente de trabalho, recursos ecológicos de forma sustentável. Para estabelecer essa atitude ecologicamente consciente e adotar uma cultura pró-meio ambiente, um desafio complexo que inclui educação e promoção de novos hábitos relativos à sustentabilidade, foi promovida, de forma inédita, com a parceria e apoio do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás, Corregedoria-Geral da Justiça do Estado de Goiás, por meio da Secretaria Geral e da Diretoria de Planejamento e Programas, Escola Judicial de Goiás (Ejug), e Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO), uma ação de pesquisa e treinamento com estratégia gamificada no Poder Judiciário para estimular a consciência ambiental. A iniciativa, que teve 209 participantes, foi conduzida pela servidora do TJGO, Lúcia Viegas Fernandes, bolsista no doutorado em Psicologia pela PUC-GO, e pelo professor e doutor Lauro Eugênio Guimarães Nalini. O conteúdo e a estrutura do curso foram dirigidos aos integrantes da CGJGO. 

A ação faz alusão à Semana do Meio Ambiente, que acontece na primeira semana de todo mês de junho desde 1981, quando foi instituída pelo Decreto nº 86.028. A data foi escolhida em razão do Dia Mundial do Meio Ambiente, comemorado em 5 de junho. A finalidade precípua desta iniciativa, denominada Descarte Seletivo no Ambiente Organizacional: Dos 7 Rs aos 17 ODS, foi promover a sensibilização e a conscientização sobre práticas de descarte seletivo no ambiente de trabalho a partir do uso das 7Rs da sustentabilidade (repensar, recusar, reduzir, reparar, reutilizar, reciclar e reintegrar) relacionando-se às 17 ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas – ONU). 

Com duração de 15 dias, o curso, direcionado a magistrados, servidores e serventuários (comissionados e terceirizados), estagiários e bolsistas do TJGO lotados na Corregedoria e integrantes do Banco de Tutores da Ejug (em atividade funcional durante a realização da ação), teve uma carga horária de 40 horas.

Através da Thêmis, a ação de pesquisa e treinamento convidou os membros da CGJGO para participarem da Liga da Justiça pela Sustentabilidade. Para Lúcia Viegas, a importância do curso está justamente na adequada gestão dos resíduos e na solução de graves e progressivos problemas ambientais, econômicos e sociais com impactos no alcance de todos os 17 ODS.

“O plano do curso teve uma abordagem do descarte seletivo visando o alcance dos 17 ODS a partir da ação dos 7Rs com vídeos, textos, questionários e mini games como boliche, futebol, corrida e desafio do milhão para apreensão do conhecimento. Tudo foi feito de maneira lúdica e muito interativa. Existem registros, inclusive, de participantes que realizaram algumas das avaliações e mini games na presença dos filhos, tanto crianças como adolescentes, e que além deles pedirem para continuar fazendo o curso com seus pais houve mudança comportamental. Esse impacto positivo nos deixa realmente muito satisfeitos porque percebemos que alcançamos nosso objetivo e conseguimos mobilizar as pessoas para essa mudança efetiva de comportamento em relação ao descarte seletivo e à sustentabilidade”, ressaltou.

Engajamento maciço

Outro ponto destacado pela servidora foi o fato de que 77% dos 209 participantes que se inscreveram para a ação acessam a plataforma de treinamento gamificado e apresentaram um nível de engajamento considerado como excelente. “Foram 339 horas e 16 minutos de treinamento e esse envolvimento total dos participantes foi apontado em um relatório emitido pelo próprio sistema”, realçou.

O conteúdo foi distribuído em 3 etapas: descarte seletivo (contextualização, abordagem contemporânea e impactos organizacionais à luz) dos 7Rs e 17 ODS, 7Rs como ferramenta de prática otimizada no Descarte Seletivo e sua correlação com os 17 ODS no contexto organizacional, e 17 ODS e sua correlação com o descarte seletivo e com os 7Rs.

Os cursistas concluintes obtiveram certificado de conclusão de curso, emitidos pela Ejug, bem como Certificado de Participação da 1ª Turma de Ação de Pesquisa e Treinamento Gamificado em Plataforma Virtual pela Corregedoria. Aqueles que nas missões dos 7Rs alcançaram aproveitamento maior que 70% tiveram emblema relativo a cada R em que obteve tal aproveitamento, e, conquistando todos os emblemas dos Rs, foram agraciados também com o escudo da sustentabilidade. Os emblemas foram atingidos a partir do desempenho nos mini games. 

Macrodesafio e metas

A ação está inserida no Macrodesafio 1, relacionado à garantia dos direitos fundamentais, e atende à Meta 1, do Plano de Gestão da CGJGO, que dispõe acerca da implementação e aprimoramento de 10 iniciativas institucionais voltadas para o acesso à justiça e à promoção do exercício da cidadania, responsabilidade socioambiental, direcionadas ao alcance dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável - ODS (Agenda 2030 – ONU/CNJ).

O curso também faz parte do Plano de Capacitação 2021/2023 da Ejug, no qual apresenta como meta para formação continuada de magistradas e servidores, respectivamente: capacitar 70% dos magistrados do TJGO, por meio de eventos de formação de curta duração (Meta 2); e capacitar 60% dos servidores do TJGO, por meio de curso presenciais e à distância, nos cursos oferecidos pela escola (Meta 1).

CF e Resoluções do CNJ

O direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado é garantido pela Constituição Federal (artigo 225), que deixa expresso o direito de todos ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.

Em 2018, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), por meio do ministro Dias Toffoli, então presidente do órgão, destacou a importância de incluir, no planejamento do Poder Judiciário para 2020, as metas dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável – ODS, da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas – ONU.

A Resolução nº 400, de 16 de junho de 2021, do CNJ, dispõe sobre a política de sustentabilidade no âmbito do Poder Judiciário apontando para a necessidade de inclusão de práticas socioambientais sustentáveis nos Tribunais. O objetivo desta iniciativa consubstancia-se na responsabilidade dos Tribunais na inserção de tais práticas, a fim de diminuir os impactos ambientais a partir da ação humana, demonstrando a preocupação com políticas de sustentabilidade.

O poder motivacional dos jogos

Diversos autores analisaram a relação entre os jogos e os seres humanos, a exemplo de Huizinga (1955), Bartle (1996), Salen e Zimmerman (2003) e Koster (2013). Todos eles apresentaram os jogos como mecanismos capazes de despertar comportamentos fortemente motivados e sustentar essa motivação por longos períodos. Mas o que de tão especial existe na experiência oferecida pelos jogos? Por que, através dos jogos, é possível estabelecer um comportamento motivado tão duradouro?

Algumas características dos jogos são fundamentais para estabelecer essa relação, de acordo com os autores, como, por exemplo, a abstração, o ambiente seguro para errar, o desafio e a maestria, os ciclos de ação e resposta, que também são de aprendizado, autonomia, senso de propósito, e a experiência autotélica (experiência de jogar guiada mais por estados internos como prazer, desafio e diversão do que por prêmios ou ganhos externos (dinheiro, cargos, recompensas).

Todas essas características atuando em conjunto oferecem uma experiência prazerosa, construtiva e gratificante ao ser humano, de forma que surgiu o interesse de aproveitar essa experiência em cenários do mundo real e trazer benefícios concretos à sociedade.

Sobre a gamificação

Segundo o renomado Sebastian Deterding, um dos grandes autores nesta seara, a gamificação pode ser entendida como a adoção de elementos de jogos ou estratégias de construção de jogos aplicados a um contexto sério, ou seja, aplicar os princípios de desenvolvimento dos jogos (como progressão, aprendizado, ciclos curtos de resposta) e os elementos dos jogos (pontuação, conquistas, quadros de medalhas) em cenários do mundo real (aplicativos, portais, dinâmicas de grupo, metodologias de trabalho). Projetos de gamificação têm alcançado resultados positivos em todo o mundo e são adotados com objetivos diversos (sempre associados à motivação).

O American Council for an Energy-Efficiency Economy (ACEEEDC) publicou um relatório evidenciando 53 projetos de gamificação associados à economia de energia e sustentabilidade, sendo 22 considerados de grande importância para programas de sustentabilidade americanos. (Texto: Myrelle Motta - Diretora de Comunicação Social da Corregedoria-Geral da Justiça do Estado de Goiás/Edição de imagens: Acaray Martins - Centro de Comunicação Social do TJGO)

 

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